2.3.06

Anarquia, oi!

Quanto eu mais leio sobre anarquismo mais eu vejo que nunca fui anarquista e que nunca eu conseguiria acreditar em um sistema que tenta pregar um positivismo tão cego com relação a humanidade.

Na minha adolescência, como quase toda pessoa que um dia já pensou que poderia mudar o mundo sozinha (bem, todo adolescente acha isso), eu pensava que teorias “revolucionárias” como o comunismo e o socialismo poderiam ter aquele quê de salvação, quebrando o sistema vigente e dando uma sociedade justa ou igualitária para todas as pessoas. O engano dessas teorias está justamente aí: você é criado em um sistema e sua contestação é natural ao processo de formação do individuo. Se eu tivesse nascido em uma sociedade comunista, talvez eu achasse que estaria sendo massacrado pela mão do estado e privado da minha liberdade de me desenvolver como individuo, estariam me privando do acumulo do capital e do direito de ter a propriedade privada.

É natural nadar contra a maré, confrontar os valores ensinados por sua família e sociedade para criar os seus próprios – dessa quebra nasce o individuo. Lembro-me quando eu me banhei com o comunismo pela primeira vez e com o socialismo utópico. A sensação realmente era que aquelas idéias poderiam mudar o mundo, porém, o exemplo que de que elas eram falhas e que o ser humano não consegue viver em comunidade de fato estava bem na minha cara: a União Soviética desmoronava, o socialismo ruía e só a China se mantinha, manca, com um modelo de socialismo próprio, que mais parecia uma ditadura sul americana regada a excessos de sanções ao individuo.

Daí vieram a mim as idéias anarquistas, conheci o pensamento anarquista russo e toda aquela falácia pacifista de Tolstoi, muito visível em seu Guerra e Paz. Acreditei por um tempo que a anarquia poderia ser um rumo interessante, mas aí eu parei para questionar: por que diabos essas idéias nunca deram certo em mais de 2 séculos?

A premissa básica da anarquia é a crença que o ser humano é uma criatura social e que existe uma entidade a parte de tudo, que guia o homem sem que ele precise de fato de uma liderança. Isso seria basicamente como um instinto de matilha ou de manada, onde as pessoas seguem apenas o direcionamento dado por indivíduos para o bem comum. Uma idéia bem interessante, na qual eu acredito em parte, porém, existe uma outra premissa importante que é a capacidade de se auto-liderar da humanidade e de sempre fazer o correto. É uma crença tola se observarmos com cuidado a natureza humana.

O homem é um predador egoísta, Max Skiner (responsável por uma obra importante dentro do pensamento anarquista) dizia algo similar, mas seu pensamento era mais próximo ao de Nietzche, que elevava o homem ao grau de divindade (em Skiner era o egoísta e em Nietzche o super-homem). Não creio que o homem esteja acima dos outros animais quando analisado mais de perto. Somos predadores querendo perpetuar nossos genes, queremos liderar e estar acima de nossos pares. Os paradigmas mudam, mas no final, sempre são os melhores contra os piores, os mais capacitados em cima dos menos capacitados, os afortunados sobre os desaforturnados, os ricos sobre os pobres, os fortes sobre os fracos, os sanguinários sobre os pacíficos e o homem sobre o homem. A lei da natureza pode ser adaptada, mas sempre vai falar que quem vence na luta pela vida são os mais fortes – não há como negar isso e nem nosso instinto primal de reprodução e perpetuação genética.

Dentro dessa acepção as coisas ganham um sentido bem diferente e o homem passa a ser uma criatura incapaz do bem coletivo, pelo menos a sua grande maioria. A busca por uma mentalidade pacifica e comunista (no sentido do bem comum para todos) é praticamente uma jornada fadada ao fracasso. O homem chegou perto disso? Nunca, apenas mascarou através da vontade  coletiva alguns desejos do individuo, porém, isso logo faliu e deu lugar a vontade por estar em níveis superiores – aconteceu com o cristianismo, aconteceu com o budismo e aconteceu com o socialismo, pois sempre existirão os melhores e os piores, alguém paga o preço, não importa se é para o bem comum ou privado.

Essa é a minha crença e o meu ideal pessoal. Mas por que diabos eu coloquei isso aqui? É que eu fico profundamente irritado quando as pessoas ficam cegas por ideais. Tudo bem, um dia eu posso ter chegado perto de um discurso comunista, nazista, anarquista, socialista ou o que o valha, porém, eu nunca preguei. Talvez eu tenha feito isso por saber que eu não era o senhor da razão e que um pensamento nunca tinha apenas uma face – mas o mundo não é plurilateral, ele busca um paradigma e a manutenção do status quo, ou melhor, a sociedade busca uma paz ou estabilidade ilusória, até que o barril estoure e um outro paradigma se sobreponha sobre o anterior, passando novamente para um status quo que vai durar mais alguns séculos (às vezes muito mais, outras vezes muito menos).

Só uma coisa que preciso aprender a ser é paciente, pois as idéias devem ser conflitadas e algumas pessoas são mais crédulas nestas entidades. Adolescentes principalmente, porque eles precisam explicar o seu mundo e precisam se encontrar, agrupar-se em “tribos” onde as suas idéias sejam semelhantes para que possam discutí-las ou até mesmo para se sentirem protegidos, precisam de apoio dos outros que estão no mesmo barco – e assim é com a maioria das pessoas.

Um filme que ilustra bem isso é American History X – Uma outra história americana e também aquele Skin-heads – A Força Branca (Romper Stomper), mas poderia deixar uma lista imensa de literatura e filmografia que mostram que as idéias se plantam nas lacunas e conflitos da mente jovem – só que uma mente jovem pode não ser apenas na idade, uma mente jovem pode ter 30 anos de idade, porém, nunca contestou a sua realidade.

Eu preciso ganhar paciência, mas a humanidade precisa aprender a discutir o bem comum, porém, sem acreditar que todos vão deixar de ser filhos da puta manipuladores, pois o mundo hoje é deles de novo – só que hoje eles vestem terno e gravata, aposentaram as batinas e armaduras, não usam mais coroa, apenas adornos delicados e discretos, tais como seus carros de luxo, suas plásticas caríssimas e seu descaso pelo resto da sociedade. Podem chamá-los por vários nomes se desejarem, mas sempre lembrem que eles variam de políticos a empresários – no final, eles deveriam utilizar capaz pontudas e sair só a noite, pois são vampiros ou seres antropofágicos que se nutrem da vida da comunidade, da sua vida e da vida dos seus entes queridos.

Só não deixe as idéias preencherem essa frustração e causarem mais estrago que danos, uma hora os líderes bem intencionados morrem e os vampiros vestem roupas novas, viram oficiais fardados ou revolucionários barbados, mas no final são sempre sanguessugas querendo foder o resto tudo para que se saiam bem.