Papai, eu sou socialista! Sou humanista também! Odeio viver em uma sociedade capitalista onde as massas são esmagadas em detrimento da maioria das pessoas. Não suporto a corrupção da humanidade e dos valores dela mesmo, sendo moldadas para se adequarem ao que os detentores do capital vêem como útil a seus interesses. Não acho correta a má distribuição de renda, não concordo com a venda do que é nacional para o estrangeiro e para o privado. Não acredito que Deus seja a solução e a Igreja me deixa muito puto.
Sou revoltado sim, papai! Quero mudar esse mundo e não aturo mais isso. Só que, papai, eu aceito o dinheiro que o senhor me dá, aceito seus gracejos, aceito comprar um tênis por R$ 15,00 fabricado na China com mão de obra escrava – mesmo que os chineses sejam socialistas eu vivo me esquecendo disso (ah, e os norte-coreanos também!). Não quero ir viver em uma comunidade hippie lá no nordeste ou em Jacarta, mas adoro fumar meu baseado sentado embaixo de uma árvore no gramado da faculdade – ou ir pra uma festa pra socializar com meus amigos!
Puxa, papai! O senhor não me entende?! Quero apenas um mundo melhor, sou, na verdade um anarco-socialista que acha que Bakunin, Goldwin, Kropotkin e Marx tinham a razão, só não acho que a sociedade se mobiliza o suficiente. Eu não planto minha comida e não tiro o meu sustento da terra, mas acho que todos deveriam fazê-lo mesmo assim, acredito que as cidades são aglomerações de trabalho improdutivo, mas continuo vivendo em uma delas! Eu sei de tudo isso, papai, sei que a pobreza é culpa dos outros, mas não olho para o meu umbigo para ver em quantos eu estou pisando para viver e nem consigo assumir a mim mesmo que o erro também é meu – sou seu filho, papai, e o senhor não me entende!
Já é o máximo que eu posso fazer saber que as coisas estão erradas, mas daqui uns anos vou me esquecer de tudo isso, colocar a bunda no sofá e assistir documentários no History Channel, bem como filmes do Michael Moore que dizem o que eu gostaria de dizer, mas que não direi porque estarei envolvido naquilo tudo que eu odiava.
Sei que você vai olhar pra mim e dizer que cuspi pra cima, papai, mas na verdade, o senhor também o fez, bem como esse monte de amigos meus estão fazendo. Portando, o que fazer, papai?
Tudo bem, se o senhor diz, vou lá descontar minha frustração nas portas do Mac Donalds e naquelas pessoas que comem carne (que um dia voltarei a comer, depois que eu enjoar de broto de feijão).
Vou mudar o mundo, nesse final de semana votarei em um político profissional que é vítima de preconceito, afinal ele perdeu um dedo, papai, enquanto ele era proletário, mesmo que o dedo mínimo não seja fundamental! Ele é inteligente, afinal, enganou um monte de gente por quase duas vezes – sorte que ele não é um capitalista e neoimperialista como Bush, esse sim é vilão, ele e o Arnold, que era melhor fazendo filme de ação. O meu candidato e futuro re-Presidente é socialista, é da barba e sabe como é sofrer (mesmo que hoje só ande de avião e beba pinga de 80 reais o litro – quase mais caro que o galão do petróleo bruto).
O mundo mudará para melhor. Sempre.