12.3.08

Painkiller

Está presa na garganta uma sensação estranha. Enjôo misturado com azia. Porém, não bebi uma única gota de álcool. Ficar de ressaca sem a parte boa é uma merda, tal como pegar doença venérea via transfusão sanguínea.

A ressaca é espiritual, física ou moral? Não sei. Moral não é, tenho certeza. Espiritual? Só se espíritos forem os apelidos das formas de transporte dessa cidade – na verdade, o melhor apelido seria “merda entalada”, afinal, o trânsito por aqui anda parado, é uma constipação viária sem precedentes (estou me sentindo como naquela abertura de Spectreman).

Reclamar me ajuda a passar o tempo. Com três cafés na cabeça latejante, quem começa a latejar é o estômago.

E o dia vai passando, lentamente e cheio de coisinhas bestas para produzir.

Viagem

Amargo, meu sangue é amargo.

Suspirei, afinal, não é só sangue o que escorre e nem é só vermelho no branco. Tudo que é vermelho, um dia, também foi branco. Ou não, tudo depende de onde você compra a tinta – a minha, comprei em promoção pague 2 e leve 3. Não foi uma boa idéia. Nem mesmo parecida com aquela propaganda de televisão que diz que o mais barato nem sempre é o melhor. Sinto-me um pouco lá, vestido de mosquito ou com maiô em promoção da 25 de março – mas já estamos quase em abril e muitos ouviram do Ipiranga alguma coisa, mesmo que ligando para o Disque Denúncia para manter o anonimato.

É triste, pois é um ano de eleição: o que vale é a imagem bonita e não a solução.

10.3.08

Mix Clichê

“A dura Realidade bateu a minha porta”, o clichê bateu na minha cabeça como se alguém tivesse me chutado as muletas – e olha que eu ando bem com as duas pernas (excluindo-se o fato de que não sei porque diabos estou com uma dor intensa na virilha). Porém, a Realidade nem era dura e nem bateu em minha porta, nem metáfora e nem clichê.

A Realidade era uma gorda flácida que já não malhava há alguns anos. Estava velha e não conseguia nem mesmo levantar o copo de vodka e dar uma baforada em seu charuto baiano (os cubanos estão fora de moda para ela).

Não bateu a minha porta, por dois motivos simples: primeiro, ela não conseguia bater com força pra se fazer ouvir, como já mencionei; segundo, eu não tenho portas para que ela bata, com esse calor deixei tudo aberto.

Então, refazendo a frase: “A gorda flácida e velha da Realidade entrou meio que rastejando, meio que mancando, pela porta aberta – e no caminho derrubou algumas das minhas garrafas de vodka”.

Bem melhor assim, mais sincero.

Depois que a gorda flácida entrou pela porta, sentou-se devagar em meu sofá e acendeu seu charuto baiano. A casa cheirava como um terreiro de umbanda, mas não sei porque me lembrei do túnel da 9 de julho.

Quando ela estava lá, sentada, comecei a perceber que a realidade não era tão cruel assim, era algo pra você sentir pena - o jeito que ela falava era uma mescla entre travlon velha e frentista de posto de madame. A cada duas palavras havia uma pausa para retomar o fôlego. Foi aí que a gostosa da Fantasia entrou correndo saltitante pela sala! A cada golada da Realidade em uma das minhas vodkas (uma das que ela não havia quebrado), a Fantasia aproveitava pra me passar alguma cantada.

Conclusão? Poderia ser: “quando a Realidade lhe parece uma velha gorda, flácida e que cheira a terreiro de macumba, aproveita e usa a vodka pra flertar com a Fantasia”. Só que eu prefiro a mais crua: “o negócio está batendo até agora ou são os quatro comprimidos de anti-inflamatório muscular que eu tomei?”.

Fim.