Namorei demais meus sonhos e eles se tornaram chatos, tem chulé e deixam a tampa a privada levantada (ou abaixada, essa é uma discussão eterna que deveria ser estudo de tese de mestrado).
O que importa, de verdade, é que a barba dos meus sonhos me pinica, portanto, quero-os mais lisos – assim eles fogem de mim como sabonete molhado em chão de azulejo.
Então ocuparei meu tempo com menos sonhos. Terei então mais realizações? Talvez não, a vida agora precisa de novos ares, porque estou sem ar algum. Uma respiração profunda se faz entre essas linhas.
Ouço lá no fundo um:
- Teve um pesadelo, por isso acordou em prantos?
A resposta me assusta, porque na verdade não tive sonho algum.
Sim, pesadelos são sonhos, e notem como lembramos muito mais dos pesadelos sonhados do que dos sonhos bons repetidos.
É a mecânica do ruim, tudo o que ruim é ignorado, mas a sensações ruins ficam marcadas lá no fundo e aprendemos a guardá-las como uma força sem igual. Se você não lembra daquele porre horrível de conhaque barato, basta sentir o cheiro da bebida que o seu fígado faz o serviço por você – assim é com os sonhos, basta uma memória de leve que você se revira todo por dentro, contorcendo-se como minhoca no sol.
Portanto, evitarei os sonhos, os pesadelos e o conhaque ruim.