Descobri algumas coisas bem interessantes nos meus ultimos meses. Não, não aprendi algo novo que vai mudar a visão do mundo sobre alguma coisa, nem mesmo achei a fórmula para a felicidade – o que consegui foi bem mais simples, mas já é motivo para tranquilidade: descobri o que significa a palavra “assumir”.
Não, meus queridos, nem adianta colocarem os sorrisos sarcásticos na face, não vou falar que “eu sou gay”, sorry, Julinho, mas não foi dessa vez que você levou aquela grana do bolão (interníssima). Eu já “sai do armário” a muito tempo, minha preferência sexual é BEM sabida, “gosto de mulé”, como dizem os machões por aí! Só que eu me assumi como pessoa que sou. Gosto de maquiagem, gosto da minha vaidade quase-feminina, gosto de roupas, de música, de dançar, de me jogar... e sei bem que isso não me deixa menos-homem por nenhum desses fatos; só sou uma pessoa diferente.
Bem, voltando ao que interessa, a palavra “assumir”.
No ano passado eu passei por algumas experiências bem legais, as quais são comuns para muita gente: terminei um relacionamento longo, muito importante e que era praticamente a base da minha vida. Foi complicado superar, podem ter certeza, e no processo muita coisa aconteceu. Conheci pessoas legais, fiz coisas legais, corri para todos os lados e estou em um lugar que lutei para estar; estou amando esta paisagem que eu vejo, as minhas conquistas e escolhas; estou feliz de fato por estar onde estou e mais feliz ainda de estar com quem estou (aqui entra uma pessoa muito especial para mim, que junto comigo Sou Eu, e também os amigos todos, as pessoas queridas, a família, enfim, essa gente toda que me faz completo). Só que nesse processo que me trouxe até aqui, aprendi liçõe valiosas e aprendi que, algumas vezes na vida da gente, vivemos mas não assumimos aquilo que temos.
Está bem, agora você fez aquela cara de “ãh, que diabos ele está dizendo?”. Tenho certeza! Tenho certeza! Vamos explicar então...
Você pode ter “alguma coisa” nas mãos, seja um emprego, uma amizade, um namoro ou um compromisso qualquer com outra coisa qualquer, mas você apenas o mantém para passar o tempo, para preencher uma lacuna que não é de fato uma prioridade na tua vida. No quesito relacionamento isto acontece com muita frequência: temos diversas amizades, rolos, namoricos, casos e afins que acabam sendo apenas isso, não se tornam prioridades, não se tornam especiais. Você não assume aquilo, não abraça como se importasse de fato, apenas mantém lá, como se fosse uma peça de um quebra-cabeças complexo e confuso que é a sua vida – não é apoio, é apenas decoração.
Assumir significa priorizar! Significa bater no peito sem medo e falar “eu aceito isso e quero isso, lutarei por isso e viverei assim”; significa colocar os medos de lado, os traumas bobos, as coisas pequenas e enfrentar a situação. Você assume amigos também, não só namorados, pois isso significa que você está assumindo um compromisso sério com alguém.
A maioria das pessoas não assume. Elas tem medo de envolvimentos mais profundos, não confiam nas outras e carregam nos ombros uma carga de traumas, medos, inseguranças e frescurinhas que vem lááááá de trás, da infância, da juventude e, pode ter certeza que sim, da vida recente. Todo mundo tem o hábito maldito de inserir os seres humanos em categorias e deixar eles lá, esquecendo-se que a humanidade é muito mais exceção do que estereótipo – ninguém é igual a ninguém (ninguém é de ninguém também, mas isto é assunto para outro devaneio). Só que eu aprendi a assumir, na verdade, aprendi a fazer isso e dar um nome, porque antes eu podia até fazer, mas ficava nos joguinhos. Ah, e como eu odeio os joguinhos. Pro amor eu jogo hóquei, sem dúvida! Prefiro ir direto ao ponto do que ficar manipulando e fazendo cu doce.
Então eu assumo agora com gosto. E sabe o que significa isso? É aquele lance da fidelidade. Você aprende a ser fiel não a uma moral puritana e tola, não a conceitos pré-estabelecidos; você passa a ser fiel para um sentimento, para algo que sente por alguém. Não precisa ser um amor no sentido mais convencional, mas você passa a assumir os seus amigos, assumir as pessoas que você gosta. Você zela muito mais por quem ama do que por aquele monte de gente que lhe rodeia, passa a se importar com algumas pessoas e descobre que você não pode amar todos da mesma maneira, mas pode amar muito e auxiliar um grupo de pessoas que está lá no top list da sua vida. Você aprende a dar atenção – e é aí que você se torna uma pessoa mais feliz, você ganha objetivos.
Pode até parecer besteira falar isso com 25 anos, mas isso é criar laços duradouros e fazer valer mesmo a sua vida. Não significa que você vai deixar as “pessoas novas” de lado, mas significa que você vai valorizar bem mais as pessoas maravilhos que você conhece! Isso é assumir, isso é querer bem de fato.
Aprendi isso? Não sei, talvez eu tenha levado anos ou uma década para digerir esse conceito, para ultrapassar as barreiras que eu mesmo me coloquei, mas hoje eu assumo. Não vivo mais para o mundo, mas vivo no mundo procurando meu lugar ao Sol – e quero dividir ele com quem eu amo.
Assumo com orgulho. Não escondo de quem gosto e o quanto eu gosto. Assumir é isso! É jogar na cara do mundo o que você sente, é acreditar em um futuro mesmo que o futuro seja sempre incerto, é respeitar para ser respeita e dar sem esperar receber em troca. Assumir é bater no peito e falar na cara o que você espera, é ser sinceor acima de tudo com quem você ama e, principalmente, com você mesmo. Quando você não é capaz de assumir algo, fica aquela lacuna, aquela interrogação. A gente sempre se pergunta no âmago o que é que acontece quando estamso em dúvida e em dívida com nós mesmos, isso tudo porque você não descobriu ainda o que significa essa palavrinha.
Assumir é tomar posse de um sentimento como se ele fosse uma cadeira, é sentar nele e zelar por todas as responsabilidades que ele trás. Não é nada fácil cuidar de sentimentos, nem mesmo utilizando O Pequeno Príncipe ou Tistu como guias de vida. É complicado, é dificil e na maioria das vezes machuca mais do que alegra, mas é assim que funciona mesmo, não adianta. No final da vida espero poder olhar para trás e ver o quanto eu tentei e o quanto assumi, mas espero mais ainda olhar para o meu lado e ver caminhando junto comigo as pessoas e coisas que eu assumi!
Hoje eu assumo a minha namorada, posso ser eu mesmo, esse cara cara-de-pau e safado, esse bon vivant que gosta de dançar, beber e causar horrores, mas eu assumo bem o que eu sinto, o que eu quero e pelo que zelo. Quando a pessoa que eu amo tropeça, pode ter a certeza que estarei lá; quando ela chora, enfrento o dragão que for para dar um abraço e enxugar a lágrima; quando ela sorri, pulo junto com ela como se a alegria fosse realmente minha; quando ela dorme, pode ter certeza, vou perder pelo menos um boooom tempo zelando por ela ao meu lado. Sou assim, sempre fui, mas hoje eu bato no peito, não preciso ter medo, mesmo que “o pra sempre sempre acabe” (como escreveu o Renato Russo, mais poeta que cantor).
Assumo também meus amigos, bem sabem eles quem são, mas agora vou ser mais pentelho, porque eu amo quem me conhece de fato, pois eles sabem bem onde minhas raízes estão (mesmo que eu viva mais nas nuvens e seja bem mais pássaro do que planta, mas como eu sou péssimo em biologia e melhor em ficção, criei um híbrido entre pássaro e planta, uma plampássaro, digamos).
Acho que era isso o que eu tinha para dividir. Pode não ser muito, mas também não é pouco. Para muita gente não vai significar nada, para outras vai parecer um absurdo, mas eu espero que alguma coisa se mova dentro de quem encarar esse texto enorme.
No final, eu assumo sempre, o que importa é que eu quero é “pra sempres”, mesmo sabendo que o que é eterno não cativa muito, mas eu quero cativar todos os dias para poder ser eterno.
Até.