Algo coça embaixo do meu travesseiro todos os dias. Nunca sei ao certo se são os meus dedos dormentes por dormir em uma posição errada ou o dia seguinte rastejando para sair.
Futuro, nunca pensei que a visão dele fosse tão cinza a meus olhos. Talvez seja essa cidade. São Paulo é vazia. Tudo bem, somos mais de 12 milhões de pessoas disputando pouco espaço, mas mesmo assim somos unidades fechadas sem contato - ou contato demais.
Não vejo perspectiva, pois as sombras dos prédios tapam a visão. Tampões imensos que deixam o céu menos anil - o nome correto para o céu paulistano seria "céu anal", pois a cor que vejo por aí não é cinza e o cheiro do Vale do Anhangabaú não se parece nada com as imagens das fotos tiradas nele.
Queria que o meu mundo fosse mais novela das seis, mesmo que nesse horário eu esteja preso no trânsito e, se der sorte, chego pra ver o final da novela das nove.
Esse é o meu futuro, que virou presente. Sem armas laser, sabres de luz ou mochilas a jato - só trabalho, política e divisões em anos eleitorais.