Como em 1984, em “o amor é ódio”, as coisas podem ser levadas a ópticas diferentes cada vez que analisamos uma situação. Duas coisas nos movem como individuos e essas duas foram nomeadas acima. Agora, basta a nós escolher qual das duas vamos querer deixar mais presentes na minha vida. Odeio? Sim, vocês não têm idéia de como eu tenho a capacidade para fazê-lo, mas meu ódio é menos nocivo do que meu amor pela vida. Meu amor pelas coisas é que me sustenta, meu apego pelo pelas pessoas que eu amo me leva adiante, mesmo que doa na maioria das vezes sentir-me sozinho nesse mar de anseios. Sou um sonhador, um romântico que finge a todo o momento ser frio e calculista; visto uma carapuça de insensibilidade e distantância, mas eu choro sozinho – e como choro! Sou uma criança com medo do escuro e o escuro vive a minha volta. Peço auxílio em meu sofrimento, mas ele é discreto (quase secreto, diria), também disfarçado de alguma outra coisa. Enlouqueço todos os dias um pouco mais, mas é na mesma medida que eu me encontro. Sou um pássaro pregado em uma árvore qualquer, estou no alto, mas não vôo.
Abaixo, um trecho de De Profundis, de novo, do Oscar Wilde. Leiam, vale a pena perder um dia ou dois para encarar o livro, ele vai ficar mexendo em seu espírito por muito mais tempo.
“(...) Mas, tal como eu, também teve uma trrível tragédia em sua vida, embora inteiramente diferente da minha. Quer saber qual era? Ei-la: em você, o ódio sempre foi mais forte do que o amor. O ódio que sentia por seu pai era tão grande que conseguia ofuscar, sobrepujar e aniquilar inteiramente o amor que sentia por mim. Não havia qualquer conflito entre esses dois sentimentos, ou quase nenhum, tais eram as dimensões e a intensidade do seu ódio. Não percebia que a mesma alma não pode abrigar duas paixões tão diferentes: elas não podem habitar ao mesmo tempo aquela bela casa. O amor é alimentado pela imaginação, através da qual nos tornamos mais sábios do que sabemos, melhores do que nos sentimos, mais nobres do que somos, capazes de ver a vida como um todo; através da qual, e só através dela, chegamos a entender os outros tanto em sua relação real quanto ideal. Só o que é superior e superiormente concebido pode alimentar o amor, mas qualquer coisa alimentará o ódio. Não houve uma só taça de champanhe que você tivesse bebido, uma só das finas iguarias que tivesse provado durante todos aqueles anos que não tivesse servido para alimentar e engordar o seu ódio. E, para gratificá-lo, você jogou com a minha vida tal como jogou com meu dinheiro: descuidadamente, estouvamente, indiferente às consequências. Imaginava que, se perdesse, os prejuízos não seriam seus. E, se ganhasse, sabia que as vantagens e alegrias da vitória lhe pertenceriam.
O ódio cega. Você não percebia isso. O amor é capaz de ler o que está escrito na mais remota estrela mas o ódio deixou-o tão cego que você já não conseguia ver nada além do estreito, fechado e estiolado jardim dos seus desejos mais vulgares. Sua terrível falta de imaginação, único defeito realmente fatal de seu caráter, era causada exclusivamente pelo ódio que trazia dentro de si. Sutil, silenciosa e secretamente, essse ódio ia aos poucos roendo a sua essência, tal como o líquen vai corroendo a raiz do salgueiro, até que não conseguia distinguir nada além dos mais mesquinhos interesses e dos objetivos mais medíocres. O ódio envenenou e paralisou aqueles dons que você possuía e que o amor teria nutrido. (...)”
A vida é pouco mais do que isso. Amor e ódio. Por isso faço de tudo para evitar paixões, prefiro uma vida morna, constante, mesmo que não a tenha assim - meu objetivo é o equilibrio, nem que demore uma vida inteira, é lá que quero chegar. As planícies são mais férteis para se plantar sonhos; montanhas são bons lugares para fitar as mudanças.
Até.