O irrelevante é tão presente em nossa vida. Somos produtos de pequenas irrelevâncias constantes, filhos da futilidade que adquire papel de necessidade. Passamos despercebidos pelo mundo, a não ser quando uma propaganda de uísque ou cigarro diz que você pode fazer a diferença. Keep walking. Com alguma coisa em comum. Você só precisa fazer uma coisa notável. Os slogans vão se perpetuando para vender a imagem de que você faz a diferença, de que você é importante.
Na verdade, ninguém é tão mais importante do que a sua função no cotidiano. O que é importante de fato é a função exercida e não aquele que a executa. Quando removido o ator, a peça ainda continua. Você vai até sentir falta de um trejeito ou outro na interpretação, mas para a história, o que importa mesmo é que aquele papel foi interpretado, que o personagem ainda existe e que a função foi exercida no contexto – se com ou sem maestria, é coisa que não faz a diferença.
A memória é curta e as informações são rápidas demais, por isso, tudo é fútil e fulgaz. Tudo é desimportante. Os laços não são mais do que obrigações. Os gostares não são mais do que contratos. Você passa a ser apenas necessário em sua função e o preceito budista do “nada é, tudo está” se torna tão vazio e essa transitoriedade se torna incômoda.
Estamos aqui e quando deixarmos esse lugar, outra pessoa irá tomá-lo de alguma forma. Você não será mais necessário e, talvez, isso seja o que me incomode mais no mundo. Estranho assumir que o fato que lhe incomoda é a sua maior característica como pessoa: a fluidez das coisas me dá coceiras no céu da boca.
E o quase-slogan a verdade dói veio como mal cheiro dentro do elevador e bateu forte na minha cara.
Dói mesmo.