13.10.09

Tereza

Dá-me um copo!
Corpos não me satisfazem.

Dá-me um copo,
Que bebo em teu seio
O veneno que recusei.

Aceito só um corpo,
Mas não ungido,
Pois o Sacramento é só meu.

Criam-se os monstros
Na mesma proporção que os soluços
Que a falta de vodka me traz.

A bebida é irmã mais velha da saúde:
Sua dose diária me deixa seguro,
Sem medo do escuro, de dormir ao relento.

Eu, em 13.10.2009 - 7h40

Travessa

O chão está partido!
O gado ferido não tem para onde seguir.

A terra seca murcha
A relva e turva os anos de escasso plantio.

Procura-se a culpa.
Dá-se o nome ao diabo que melhor lhe convir:

Belzebu, Carnegão ou Satanás?
Cachaça, viola ou Mariana?

Não importa o nome, mas o que ele faz.

Desfazem-se os anos,
Os laços
E as malas dos mascates.

Desfazem-se os anos
E os passos
Dados em direção comum.

Sobra-se a seca e a culpa,
A sede e o culpado.

Sombra-se o passado,
Oculto nos erros e errados.

Sóbrio é se, com tudo isso,
O peão sabe sua reza
Ao santo pelo que se preza
No momento do Juízo Diário.

Sua terra lhe pertence,
Mesmo seca e amaldiçoada pelo diabo.
Abraça seu chão chão e ama seu zelo.

Só o que é seu de verdade
Está além da vaidade e do medo.

Depois da seca, vem a tempestade
- e depois dela, o plantio.

Eu, em 13.10.2009 às 7h00 da manhã em viagem.

12.10.09

Duomático

Sou o filho da tempestade,
vivo entre o Sol e o solo.
Meus irmãos são os sonhos perdidos,
Filhos do desespero e da falta de zelo.

Vou da tristeza da tarde
ao leve sorriso do amante tolo:
Meus laços são todos fundidos
no âmago dos tempos passados.

Vivo no presente a supremacia
das minhas eternas memórias.

Sou o Senhor do meu futuro
e o sabotador das minhas glórias.

Poe Bellentani, 12-10-2009
Um poema de mais de três versos depois de quase 4 anos sem fazê-lo de forma coerente.