A nova polêmica das oito
Hoje cedo ouvi a opinião editorial do Jornal da Jovem Pan e logo cedo já fiquei indignado. Não, não foi a opinião da rádio que despertou minha indignação para um fato, mas sim fiquei indignado com a própria postura que o editorial tomou!
Agora é in falar mal da nova novela da Globo, talvez por ser Globo apenas, mas eu creio que os motivos sejam bem maiores. Jornais de todo o país e a sociedade pressionam a emissora para que ela “pegue mais leve” com comentários de um falso moralismo notório.
Todo mundo fala que a nova “novela das oito” da emissora é ofensiva, distorcendo e invertendo valores, mostrando a promiscuidade como algo “normal”, cenas de nudez e testemunhos sobre sexo, cotidiano, divórcio e traição no final da apresentação diária – falam sobre coisas que acontecem todos os dias com milhares de brasileiros espalhados pelo país e mundo afora.
Ao manter essa postura moralista todos os cri-criticos usam argumentos similares, dizendo que “crianças assistem a novela” ou que “o cidadão comum procura entretenimento ao chegar em casa e encontra palavras de baixo calão, cenas eróticas e promiscuidade”.
Em primeiro lugar, a novela tem censura de 12 anos e é responsabilidade dos pais deixarem ou não os filhos assistirem televisão, pois ela não é responsável por educar ninguém e, caso os pais queiram que os filhos absorvam conteúdo “decente”, instalem eles filtros para a Discovery, History Channel ou mandem seus filhos lerem um livro – mas também podem deixar sua prole assistir a novela, mas discutam com os valores mostrados e ensinem a eles o que é “certo ou errado”, ao invés de enrolar o rabo e sentar em cima esperando que o aparelhinho brilhante ensine às crianças algo que preste.
Outra coisa, não adianta falar que o cidadão comum vai pra casa esperando entretenimento “de qualidade” - ele vai pra casa é pra desligar o cérebro! Alguns assistem documentários, filmes e se atualizam através de jornais, outros querem mesmo é uma história sobre o cotidiano – é aí que a novela da Globo entra!
Qual a diferença dessa novela para a Belíssima? Ou qualquer outra novela anterior? Será que é porque essa trata de temas mais contundentes e próximos a realidade? Porque Belíssima era um amontoado de absurdos que deseducava a população de um jeito absurdo, mostrando inverdades sobre a polícia, procedimento jurídicos e um tanto de outras coisas que ninguém questionava (como o “golpe” do personagem André, que não tem fundamento legal algum).
Quando as pessoas falam esse monte de coisas esquecem de dados ou pesquisas que mostram que somente 25% dos casados espera fidelidade (pra mim vale o ditado: “quem espera que o outro traia é porque também pensa em trair”) e algumas pesquisas falam que 2 em cada 5 pessoas com relacionamentos estáveis já pularam a cerca algum dia. Aposto com você que muitos dos falsos moralistas que estão por aí falando merda sobre a novela já deram seus pulos e, em uma manobra mesquinha e vil, tentam disfarçar isso mostrando como são pessoas retas e de bom costume.
A traição é comum em nossa sociedade e falar dela incomoda, como acontece quando falamos sobre a miséria, a criminalidade, o descaso pela saúde e a indiferença pela condição social nacional – é mais fácil tentar tapar o sol com a peneira!
O pior é que essas pessoas fazem isso em uma tentativa de distrair a sociedade dos seus próprios crimes e se passarem por santos, uma atitude que vivencio quase todos os dias quando vejo os “machos de balada”, aqueles caras que saem na noite solteiros, deixam suas namoradas/noivas/esposas em casa e tentam catar qualquer coisa que esteja disponível para uma trepada ligeira (às vezes até um caso mais longo), mas quando você questiona sobre fidelidade, direito da namorada fazer o mesmo ou qualquer outra coisa do gênero, já vêm com um discurso todo pronto falando que nunca tolerariam de sua namorada uma traição e que isso é uma vergonha, que “sentaria a mão” se um dia fossem traídos ou qualquer coisa similar.
É aí que nasce a hipocrisia, porque essa criação vem da família e da sociedade, que passam quase duas décadas lavando a mente dos seus rebentos para que eles se tornem imbecis de falsa moral, com seus aforismos prontos para serem tratados como verdades absolutas, porém vazias.
Só que a dita novela não fala só de promiscuidade e nem de sexo, ela trata de outros temas próximos, mostra que existem pessoas que amam de verdade e que vivem relacionamentos pra vida toda (os personagens de Tarcísio Meira e Glória Menezes), que tem diferenças mas que podem viver juntos (Ana Paula Arósio e Edson Celulari) e sobre a gravidez acidental na adolescência! Agora, tratar de temas que geram discussão é distorcer valores e a moral? É inverter alguma coisa? Que nada! Isso exige discussão!
Esse falso moralismo não atinge só a novela não, impede que as pessoas entendam que droga não é só cocaína e maconha, nem que vejam que se essas drogas fossem legalizadas e tachadas a criminalidade seria reduzida. Também não adianta você proibir o uso de algumas drogas e liberar outras, porque o álcool ou o cigarro estragam o corpo e a mente tanto quanto as outras, a diferença é que a bebida é um vicio social e que o lobby da industria de bebidas é enorme.
O grande problema é que precisamos de bodes expiatórios e, como as pessoas fazem com o Orkut, RPG, cinema e música, vão fazer com a novela – é mais fácil arrumar um alvo para as pedradas, quando a culpa da merda toda deveria é recair sobre o descaso dos pais e do Estado para com a educação!