27.3.07

Ministra defende o apartheid ao contrário

Outro dia, alguém respondeu aqui no meu blog quando eu falei sobre o racismo, que eu achava um absurdo o “racismo invertido”. A pessoa não se identificou, então eu não consegui respondê-la e deixei o assunto passar, pois de justificativa cega e unilateral eu estou de saco cheio (eu discordo completamente do ponto de vista da pessoa em questão, afinal, o pensamento correto seria “acabe com essa besteira” e não “inflame essa besteira” – mas cada um torce pro time que quer).

Então, hoje abro a capa do UOL e me deparo com a declaração da Ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Social (SEPPIR):

A reação de um negro de não querer conviver com um branco, eu acho uma reação natural. Quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou.

E ainda:

Aparentemente todos podem usufruir de tudo, mas na prática há lugares onde os negros não vão. Há um debate se aqui a questão é racial ou social. Eu diria que é as duas coisas.

Além disso citado aí ela conseguiu somar várias pérolas fantásticas em sua declaração, dignas de um apartheid invertido!

A questão no Brasil não é de racismo, mas sim de conflito social. Se os negros passam a se considerar massacrados por uma elite branca (que de fato não existe, porque no final todo mundo tem sua pitada de brasilidade e o olho claro é bem comum misturado ao cabelo enrolado ou o cabelo castanho e a pele morena), então eles se isolam em seus guetos, criando uma subcultura. O que acontece em movimento contrário é que eles se isolam da sociedade e passam a ter outros fatores além da pobreza para enfrentar, tal como linguajar e aspectos culturais desenvolvidos nestes guetos – conta mais isso do que a cor da pele.

No filme Crash, No Limite, você vê como é essa relação nos EUA, bem mais intensa e delineada que aqui no Brasil, mas entende que não é a sociedade que isola as pessoas por cor ou por nacionalidade, mas sim as próprias pessoas que se isolam, criando muros e preconceitos não justificados.

O que a Ministra disse não faz sentido, apenas me deixou MUITO revoltado, porque ela permite que as pessoas pensem de uma maneira pequena. A linha de raciocínio utilizada pode permitir que eu queira que todos os alemães sejam queimados em câmeras crematórias ou sufocados em de gás por conta da segunda guerra, que todos os católicos apostólicos romanos sejam torturados e queimados em fogueiras por conta da Inquisição e que todos os países “colonizados” pela Europa invadam o Velho Continente estuprando, roubando suas riquezas, massacrando a sua cultura e matando todo mundo com doenças infecto-contagiosas.

O pior de tudo, tem gente que acredita que os ingleses realmente proibiram a escravidão porque eles eram “evoluídos e bonzinhos”. Gente, era errado, fato, foi uma besteirada, mas só acabou porque os ingleses estavam perdendo mercados consumidores e perdendo a concorrência onde a prática da escravidão dava lucro, ou seja, em paises que vendiam matéria prima! Ingenuidade achar que foi um pensamento iluminado que levou a pressão que deflagrou a abolição da escravatura.

Agora, fico eu revoltado aqui, porque a nossa ministra falou uma besteira tão grande que vai criar um pensamento que justifica a violência pela violência. Vamos nós de volta a Lei de Talião e pensemos em jogar toda a cultura moderna no lixo, pois Gandhi estava errado, Cristo estava errado, Buda estava errado e o resto todo estava errado, afinal, a gente não é obrigado a gostar de quem nos pisoteia e podemos nos isolar deles a vontade – se der vontade, vamos meter açoite neles, afinal, é a hora da desforra.

A questão no Brasil não é racismo, mas distância social e criação das subculturas que vivem às margens. Uma vez eu dei um exemplo bem simples: o loirinho pobre que tem um irmão negro e um japonês vai ser obrigado a se ver sem escola pública porque somente o irmão negro terá direito a sua cota?

Pensem a respeito!