6.1.06

Continuação do post de ontem!!!



b. A arma deixa a população mais “macha”

A sensação de poder que uma arma de fogo dá ao ser humano é sensacional. Você segura uma pistola na mão (estou falando de revólveres, viu?) e se sente o rei do mundo, mais que o Leonardo Di Caprio em Titanic. Estou falando isso porque já segurei uma em minhas mãos.

Quanto maior a arma, maior é a sensação de poder. É incrível como isso acontece. Você se sente invencível e que consegue fazer tudo o que quiser, como se a arma lhe desse superpoderes especiais – você é deslocado para uma posição de poder, porque você pode danificar coisas sem encostar nelas. As explicações são diversas para esse fenômeno, porém, eu ainda tenho cérebro que pensa mais do que as zonas do instinto e sei que o que eu tenho na mão vai causar alguns estragos que eu não vou poder remediar.

Esse sentimento de ter uma arma de fogo nas mãos e o poder que isso dá não poderia ser arrancado do brasileiro, ele não vai abrir mão desse acréscimo instantâneo ao tamanho de sua pica. Não vai largar a posição de poder tomada quando ele empunha seu revólver em um bar qualquer e mostra o quão macho ele é. Ter uma pistola em mãos dá virilidade ao caráter falho, mostra que o cara é macho mesmo que sua outra pistola não seja lá grande coisa.

E você acha que as pessoas iriam abrir mão desse “direito de macheza”?

Devido a esse poder todo que a arma de fogo representa, algumas pessoas ficaram com medo de abrir mão do tal “direito” de ter uma arma de fogo com medo que o estado lhes tirasse também o direito de falar o que se pensa ou o de significar algo.

Não se preocupem com isso, meus caros. Se realmente o estado quisesse tirar de vocês as armas eles o fariam. Vocês vão continuar sem acesso a fuzis, granadas, lança mísseis, morteiros, aviões de guerra, metralhadoras, artilharia anti-aérea e tanques – isso se vocês comprarem armas legalmente, porque em alguns lugares, na capital famosa de um estado famoso, você consegue até mesmo comprar esses itens, tirando os tanques e aviões de guerra (por enquanto). Caso o Estado achasse que deveria dar um golpe e colocar uma ditadura mais uma vez por nossas goelas abaixo a gente poderia se defender com essas pistolas todas. Todo mundo com seu revólver 38 na mão e suas espingardas de matar galinha! Iríamos fazer a revolução armada! Iríamos parar a máquina do Exército! Iríamos enfrentar todo o aparato militar não-tão-de-ponta das Forças Armadas com isso tudo e seríamos vitoriosos devido ao nosso super treinamento em como empunhar nossas armas todas! Seriamos exemplo para o resto do mundo!

Notaram que não faz diferença nenhuma armar todos os 180 milhões de habitantes do Brasil com uma arma de matar pardal na mão? Se eu tivesse um exército de verdade na minha cola, acho que eu choraria feito neném e largaria minha arminha em algum lugar, já que aquele encouraçado blindado de várias toneladas apontou o seu canhão com alguns bons quilos de explosivo para a casamata improvisada que eu fiz. “Eu me rendo” seria no mínimo uma frase inteligente, mas acho que na hora iria ser correria para qualquer lugar longe dali.

Você acha que o Estado é burro o suficiente para alimentar sua população com armas que possam criar resistência as suas forças armadas? Não, eles não seriam tão burros! Eles leram o manual de “Como governar uma nação” e também leram Maquiavel, sabe? Aquele cara que escreveu um livro chamado O Príncipe e que dá valorosas lições de como manter um povo na linha e ótimos argumentos para explicar o que acontece com as massas.

As desculpas são muitas, mas no final, tudo se resume a um déficit em tamanho ou potência que é suprido por um acessório que não tem nada a ver com sexo – ou têm?

(Parte 2 - continua...)

5.1.06

Depois do referendo

Agora que as coisas deram uma “esfriada” e já faz meses que a gente foi parar lá nas urnas, decidir se aquele tal do Estatuto do Desarmamento iria continuar valendo e “o comércio de armas de fogo e munição deveriam ser proibidas no Brasil”. Fomos as urnas e, bem como suspeitavam aqueles que deram uma paradinha para pensar sobre a questão, o povo decidiu que o comércio NÃO deveria ser proibido.

Então fica esse monte de gente “feliz” porque mantiveram seus direitos e, como se fosse em jogo de futebol, soltam por aí com orgulho que “seu ponto de vista estava certo”, como se seu time tivesse ganho o campeonato – só faltam os gritos de “É campeão! É campeão”. Bem, eu nunca achei que a maioria ditasse o que é certo, mas sim o paradigma moral e ideológico da sociedade, mas aí, é discussão para um outro momento (uma mesa de bar, talvez).

É preciso saber, antes de tudo, o que a dita “Lei do Desarmamento” dizia.

Isso vocês podem conferir em alguns links (mais deles vou colocar em “Referências do texto”, pois assim vocês ficam sabendo de onde eu tirei muitos dos argumentos aqui contidos):

Depois disso tudo que se passou, basta fazermos perguntas a nós mesmos, para ver o que mudou e o que vai ficar melhor ou pior (e vai por mim, as coisas vão ficar bem “quentes” daqui uns tempos, estou pensando seriamente em NÃO sair da cidade e morar em um prédio com condomínio BEM caro, com pelo menos 80% dos gastos com estrutura de segurança).

Então vamos nos perguntar e pensar um pouco. Isso faz bem às vezes (só as vezes, senão você pode incomodar alguém e, sabecumé, merrrmão, tu some).

(Vou postar uma parte por dia, são vááááárias páginas de texto, então, paciência. De hoje até semana que vem vocês ficarão saturados de conteúdo relacionado. Depois vou postar uma outra "viagem" minha, nada ligada a política).

1) Porque a “Lei de Desarmamento” não passou?

a. A população se sente insegura e isso é de conhecimento geral

Todo mundo sabe que o referendo não passou por um motivo bem claro: o brasileiro comum não se sente seguro. É de conhecimento geral, até você que está aí lendo isso em casa sabe disso, sentadinho na frente do seu computador, envolvido por entre quatro paredes, uma tranca na porta, uma grade lá fora no portão e, se você morar em um prédio, possivelmente com câmeras de vigilância, segurança interna, cerca elétrica, etc.

Pergunte para você mesmo se você se sente seguro, faça essa pergunta com mais seriedade e pergunte para você mesmo se você daria uma volta no centro da sua cidade as 22h, sem se preocupar com as pessoas que passam perto de você ou te olham do outro lado da rua.

Não adianta, o brasileiro não se sente seguro porque não acredita na eficácia da força policial.

Uma pesquisa feita pelo IBGF (Instituto Brasileiro Giovanni Falcone, órgão de combate à criminalidade) consta que o medo é a insegurança é proporcional a classe social do cidadão. Esta pesquisa determina a resposta para a pergunta se a sensação de medo aumentou, diminuiu ou permaneceu a mesma do que em anos anteriores. As respostas para “sim, aumentou” foram:

Classe A* – 72%
Classe B* – 70%
Classe C* – 66%
Classe D* – 61%
Classe E* – 44%

* De acordo com a classificação econômica adotada pela Associação Nacional de Empresas de Pesquisa.

Ainda nessa pesquisa, 86% dos pesquisados disseram que sentem “muito inseguros” ou “inseguros”, entre as opções “muito inseguro”, “inseguro”, “seguro” ou “muito seguro”. Com uma concentração mais uma vez nas classes A e B de pessoas com um maior índice de insegurança, sendo que 90% deles se sentem muito inseguros ou inseguros.

Foi uma jogada suja perguntar se o brasileiro queria ou não manter o tal do “direito a se defender portando armas de fogo”, mesmo que a pergunta não tenha sido essa, é isso que eles fizeram. Se você não dá estrutura para alguém se sentir seguro, claro que a pessoa vai se agarrar à falsa idéia de segurança que a arma de fogo traz, naquele direito praticamente divino de defender a si mesmo, sua família, sua propriedade e seus valores através da maneira mais eficaz: com um revólver na mão.

(Parte 1 - continua...)