19.9.09

Do duodeno

O vento é um enigma. Definições diversas já foram feitas, sobre a romanticidade absorvida pelo ar, mas não gosto mais de pensar em definições. Aprendi a sentir mais do que descrever. Talvez por isso tenha deixado as palavras de lado. Só que em um determinado momento parei de sentir e nem reparei.

Quando você acorda tarde não aproveita o dia, nem a noite. Porém, eu não fico triste em ser acordado tarde, principalmente depois de ter me realizado, perdido em um caminho estranho, cercado de gente importante, mas isolado por uma bolha onde eu mesmo me coloquei.

Sou uma pessoa de fases. Entro em minha crisálida e lá fico, para sair mais borboleta do que lagarta, mas só consigo ser uma lagarta de novo toda vez que saio desse casulo. Mas isso não me deixa triste, dá-me aquele ar de spleen que considero bonito e agradável – e eu volto a produzir, pois evoluir sempre é sinal de crescimento, achar-se feio e querer melhorar é ser bonito de verdade. Coisas bonitas no meio do pântano. Uma lótus sem vergonha de brilhar em meio às coisas mortas – preciso representar as minhas tatuagens um pouco, essas marcas auto-adquiridas e assumidas como parte do meu eu.

No meio de tanta estória, história ou o que seja, é muito mais fácil ser sozinho. Você dá menos explicações, tem menos compromisso. Só que as coisas tem menos sabor. Não gosto de dessabores. Adoro o gosto de cabo de guarda-chuva que a ressaca me traz, adoro o gosto de algo diferente, de algo novo, de algo inesperado-mesmo-que-muito-esperado.

Ser sozinho é bonito. Estar sozinho é sincero. Mas é vazio. E no final, você não está sozinho, tem sua família, seus amigos e aquele grupo de pessoas especiais que você não vai largar mão. Só que é preciso cultivar. Cativar é natural, cultivar exige esforço – um esforço bom, que demora a lhe mostrar os frutos, mas eles estão lá quando você sente fome e depois que você cultiva direito existe uma sombra pra te proteger do sol .

Portanto, é melhor sentir e construir, formar raizes, alavancar-se pra cima com solidez, pois no final das contas, quando você diz que todo mundo morre sozinho esquece assumir que não é assim, você deixou parte de você por aí e ela vai ensinar alguma coisa, nem que seja para que as lembranças tirem sorrisos bobos da cara de quem encheu o caneco com você. Algo sempre vai balançar as suas folhas.

O vento continua batendo em minha porta, só que agora eu a abro. Sem metáfora, definição ou poesia, porque o que existe de bonito lhe encontra quando você se abre.

Deixo o ar entrar.

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Esse texto, eu dedico ao Breno Bolan, uma das árvores mais bonitas desse jardim, e uma das pessoas que me despertou para a vida novamente, mesmo que ela dê voltas, cara, eu vou aproveitar e estar aqui. Cara, você evoluiu e me deu um puta presente, pena que sua estada por aqui foi breve – queria poder mudar o rumo da história, mas sua verdade me mudou. Obrigado, cara, nunca vou esquecer o pouco tempo que passei contigo (e juro, não serei só eu). Fica com Deus.

1 comentário:

melissa in the sky disse...

lindo!
e não esquece que nesse jardim tem um pé de melissa, aque vc pode usar as folhas pra fazer um chá calmente sempre que precisar.

mil beijos!