Há algum tempo atrás, prestei serviço em uma empresa de uma cidade do interior. Na proposta inicial o trabalho pareceu bem legal – e o lado profissional, em si, foi fantástico. Voltei a lidar com algumas experiências que eu já tinha comigo fazia anos, coisas de começo de carreira. Somei a isso algumas coisas que aprendi com os anos e fui evoluindo naturalmente o trabalho.
Porém, uma das coisas que mais me irritavam e fizeram ser uma das experiências mais difíceis da minha vida profissional foi o ambiente. Não, o lugar não era uma masmorra que chicoteava os funcionários, o problema mesmo era a cultura dos próprios funcionários. Sim, isso mesmo, o ambiente criado pelas pessoas que trabalhavam comigo era impossível de lidar – pelo menos para alguém como eu.
O chauvinismo imperava. Tratavam as mulheres do ambiente como pedaço de carne. Era só uma delas sair que começavam os comentários “buceteiros”, de arrepiar a nuca dos mais liberais. Papo de boteco bravo, daqueles que você ouve depois de pelo menos 5 garrafas de cerveja.
Isso era pouco. O índice de homofobia e preconceito passava o limite do crime, os comentários me causavam azia. Tentei reagir algumas vezes com comentários suaves, mas não dava, sem criar olhares e comentários de volta tão ofensivos quanto.
Foi aí que alguns problemas pessoais surgiram e eu tive que decidir entre resolvê-los de vez ou me dedicar a empreitada que havia começado. Pelo ambiente, decidi pelo primeiro, afinal, já tinha peso demais em minha vida para agüentar esse tipo de coisa.
Esse desabafo demorou um bocado pra sair e os motivos foram vários. Não queria falar sobre isso com ele tão recente, afinal, a gente se enrola demais quando ainda está sentindo raiva, mas o motivo principal foi que até então eu não sabia que isso realmente me incomodava.
A idéia da “cultura dos funcionários” desandar com as relações internas e até mesmo interferir nas externas é algo que os administradores deveriam ter como meta. E não são todos que pensam nesse aspecto.
O triste é saber que em 90% das empresas da minha cidade natal as pessoas pensam assim. Não existe de fato uma cultura de pessoas, mas um aglomerado de chauvinista buceteiros e preconceituosos que não prezam pela evolução empresarial e humana – na verdade, a maioria das pessoas é um pedaço de carne, comível ou não, mas um pedaço de carne.
A falta de respeito me faz ir para longe e eu fico muito triste quando isso acontece.
Espero que um dia as pessoas possam lutar contra isso de verdade e mandarem pra puta-que-o-pariu gente assim, sem medo de tomar de volta em forma de tapa o toque que deram na sociedade.
Amanhã é dia 1º de dezembro, Dia Mundial da Luta Contra a AIDS, dia de pensar nos preconceitos e na consciência de que temos um lugar no mundo, mas não é o de apontar o dedo para outros. Somos todos iguais: morremos, sangramos e sofremos; respiramos, comemos e sorrimos.
Mão na consciência.
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