14.12.09

Um pouco sobre o estar e o não-ser

Já falei muito do “ser” por esses tempos, talvez tenha sido devido aos momentos de auto-análise e tentativas absurdas de se achar. Pobre Coelho, não adianta correr em círculos quando, muitas vezes, o problema não é em ser, mas sim em estar.

“Como assim, maluco? Isso é coisa do Chapeleiro!” pode pensar você que devora essas linhas absurdas! Não, não é. Existe um preceito do budismo que diz que nada é, tudo está. Isso quer dizer que as coisas são transitórias. Gelo vira água, que vira vapor, que vira chuva ; quando ela vai até o topo da montanha vira neve, que é gelo, um dia derrete e vira água, recomeçando o ciclo de mudanças. E isso é com tudo, com a vida, com as coisas, com os problemas e com nós mesmos.

Parece um conceito estranho para a maioria das pessoas, mas é fato. Nenhum estado é eterno, nada é constante e, por mais que nos agarremos ao status quo, tudo muda, mesmo que não percebamos. Você acha que o amor que você sentia é o mesmo que há 10 anos? Ele mudou, para melhor ou para pior, cresceu ou evanesceu, mas mudou. O mesmo vale para suas idéias, pensamentos e desejos – você mudou, eles se multiplicaram, dividiram-se, completaram-se ou apenas deixaram de ter a mesma intensidade (para mais ou para menos).

Aí , nessa eterna mutação das coisas você se observa, olha para trás e para frente, respira fundo e vê como é engraçado que você pode achar que não mudou nadinha, mas se o mundo a sua volta mudou tanto, se os amigos mudaram tanto, se sua família mudou tanto e se o que você sabe mudou tanto, porque então diabos você não há de ter mudado também? Se suas idéias se dobraram só um pouco, mesmo que seja ínfima a mudança, você não é o mesmo, deixou de estar de um jeito e foi para outro.

Não há como dizer que o universo é estático e muito menos que a vida é assim. A única coisa parada a nossa volta é a vontade de voltar no tempo, porque esse desejo não muda jamais – desde que o homem se deu conta do Eu. Tá, ele muda de intensidade - cai na minha própria armadilha de conceito! :)

Portanto, estar em um lugar pode parecer estranho, mas estou aprendendo a largar mão de alguns dogmas e, de agora em diante, o que é mais necessário é cultivar “essa cultura de estados”, modificar-se mais por dentro e por fora, assumir-se como ser dinâmico e expor isso a si mesmo (que é mais importante do que mostrar ao mundo).

Nessas idas e vindas que pretendo, se não encontrar um estado que me agrade, passarei a outro, mas não deixarei de ser algo completo, porque no fundo, o conjunto de mutações em nossa vida define o Eu. Largar um pouco da crença no sólido não significa que deixamos de ser nomináveis como indivíduos, mas não somos sólidos, somos fluidos – assim como prega Musashi no “Livro dos Cinco Anéis”: fluído como a água e livre como o vento.

1 comentário:

Tiz disse...

E é por isso que desde as primeiras aulas de filosofia na escola, Heráclito sempre foi um dos preferidos.
Panta rhei. =)