"Oi, eu sou loirinho, tenho mais três irmãos caucasianos também e somos todos pobres. Não, não, essa corzinha levemente marrom que eu tenho não é bronzeado, é que eu durmo na terra e não tomo banho, podem perceber que a cor não é igual tom de pele, pois não é uniforme – eu tenho os dedinhos mais escuros e as pernas também (ignorem, por favor, as manchas amarelas pela pele, é anemia somada a icterícia).
Minha mãe me falou sobre a política de cotas para negros em universidades públicas. Achei super legal os ricos brancos desse país se preocuparem com isso, afinal, eles precisam garantir que os seus representantes sejam eleitos no ano que vêm. Não estou dizendo que é errado, sabe? Afinal, os brancos ricos erraram com os índios desse país e também com os negros lá da África (aliás, por lá eles continuam errando com os negros, mas é outra história). Quando trouxeram os negros para cá, escravizados e maltratados, não deram condições para que eles se desenvolvessem como gente, mas mesmo assim eles conseguiram – lutaram por anos e anos por sua liberdade e mais um tanto de outros anos para sair dos guetos, conseguir se inserir fora das margens da sociedade onde foram colocados e penetrar na mesma. Minha mãe também falou para mim que mesmo hoje algumas pessoas tratam o negro muito mal, como se ele fosse meio que bicho, mas que hoje nem é tanto o problema com o negro, mas sim com as populações das periferias. Ela disse que chamam essas pessoas de gente “parda” e até sai nos certificados militares e documentos de identidade com esse nome.
Daí eu parei para falar com meus irmãos sobre isso e concordamos que a sociedade só estava tentando reparar um erro cometido lá atrás, mas meu irmão mais novo achou que não era bem assim e apoiou aquela minha primeira idéia sobre votos, mas ele disse que quando os políticos apóiam uma minoria é para conseguir votos dela e mostrar pra sociedade que eles se preocupam com as pessoas que ninguém mais se importa.
O que eu comecei a pensar depois disso é por que eles vão dar cotas para os negros, dizendo que eles não conseguem se inserir na sociedade como o branco e não dão cotas aos pobres que não tem acesso a escola. Eu nunca fui pra uma escolinha sequer e meus irmãos também não, então isso quer dizer que se eu seu for pra uma acabarei em uma escola pública, porém, o ensino público não me permitirá ingressar em uma faculdade também pública devido a concorrência. Então por que a cota não é para pobres que estudaram em escolas públicas?
Claro que os negros são minoria na sociedade, pois negro mesmo, descendente de africano de verdade, são uma minoria no país. A população, em sua maior parte, é formada por pardos! Isso, os mulatos! Os negros são poucos, tanto quanto os descendentes diretos de italianos ou de alemães. O que acontece então com a gente que é descendente de italiano ou alemão mas é pobre? Vamos ter que esperar a nossa vez quando os políticos enxergarem que estamos sem escola ou quando a criminalidade começar a ser praticada por uma maioria de olhos claros e pele manchada pela miséria?
Eles se enganam quando atribuem ao preconceito o menor índice de negros em posições de chefia ou de salário, pois o problema não é esse! O problema, de verdade, é com relação as margens da sociedade serem compostas de uma população misturada.
Sabe por quê eu digo isso? Mamãe casou de novo faz uns anos. Casou com um japonês, que tem duas filhas com uma mulata que era de uma bateria de uma escola de samba qualquer aí. O japonês, por sua vez, tem mais um filho com minha mãe. Então, em casa, somos em sete irmãos, dois do meu novo pai, um dele e da minha mãe, mais três irmãos somados a mim. Viu? Somos sete pessoas de peles distintas, mas filhos da pobreza e a maioria de nós não irá conseguir concluir o ensino médio ou sequer chegar perto de uma faculdade.
Devido as condições sociais é capaz que muitos de nós viremos bandidos ou que não saiamos das margens ou, como acontece nos grande centros de miséria, morramos antes de completar 17 anos.
Agora, diga-me uma coisa com toda sinceridade: você acha que a cota para negros é correta? E nós, caucasianos, asiáticos e árabes pobres, como é que ficamos?
Esse texto é meu sim, eu fico completamente irritado com a visão “imediatista” do brasileiro, que se reflete na política dessa maneira covarde. Acredito sim que os negros sofreram muita discriminação e penaram horrores, mas não são eles os massacrados pela sociedade. Qualquer pessoa inserida em uma ambiente de miséria está sem a proteção do estado e não tem acesso a educação de qualidade, nem a qualquer outra condição de desenvolvimento humano, então por que escolher uma minoria para inserir em “cotas”? Isso é medida estúpida e só aqueles que se acham beneficiados por tal medida celebram – o que deve ser feito é dar condição aos que menos tem, quando, na verdade, todos deveriam ter acesso ao ensino público de qualidade!
:/"
3 comentários:
Ótimo texto.
É verdade não deveria ter cotas para negros e sim para quem não tem oportunidade de ensino ou de qualquer outra coisa que um ser humano precisa para crescer bem.
Mas não concordo plenamente com você quando você disse que a maioria do pessoal que estuda em colégio público se quer consegue passar em uma universidade pública, digo isso por mim, que até a 1 mês atrás sempre estudei em colégio particular e que a 1 mês estou num colégio público de ensino comparável a minha ex escola. Eu sei que a maioria das escolas públicas não são boas, mas a que eu estudo é ótima, o ensino é bem compatível, mas nem sempre a culpa é da escola, o governo tem grande parte disso, mas quem quer estudar estuda em qualquer lugar. Não depende de um colégio e sim do aluno, mas hoje em dia os alunos poem culpa no colégio nos professores nisso e naquilo, mas no fundo a culpa também são deles, que em vez de correrem atrás com o que tem preferem sentar e reclamar como a gente faz na maioria das vezes. Eu vejo muito isso no meu colégio, os alunos querem é não ter aula, querem sair cedo, querem ficar em casa o menor objetivo deles ali é estudar. E depois são essas mesmas pessoas que vão reclamar.
Mas isso é só minha opinião a parte, mas o seu texto ficou muito bom de verdade.
Beijos!
:}
Texto está ótimo e bem coerente, bons argumamentos, mas a opinião de manuela é ridícula, achar q quem quer consegue e que depende de cada um apenas é como dizer q '' seja o que Deus quiser, se ele quis assim será'', nada disso, todos temos que ter condições para alcançar certos obejetivos e a escola teria também que ter um papel de incentivar, pois nem todos possuem papai e mamãe. Cotas apenas para escola pública, reparar o erro que foi q escravidão n é dessa maneira, abraços a vcs. jhonne_cte@hotmail.com
Seu texto é muitíssimo inteligente,coerente,amei realmente muito interessante,
Virei sua fã... Um abraço!!!
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