De todas as coisas mais estapafúrdias que eu poderia ver nessa história da Cicarelli foi a sua “reviravolta”. Depois que a justiça emitiu um ordem solicitando que o domínio http://www.youtube.com/ fosse barrado pelos backbones das empresas responsáveis pela manutenção do acesso a conteúdo internacional, entre elas Telefônica e Brasil Telecom, houve uma série de repercussões já esperadas.
Os internautas (eu não gosto desse tempo, prefiro “usuários de Internet” – internauta fica tão bobo) de todo o Brasil começaram a protestar contra e medida estúpida, que bloqueava todo um conteúdo e uma série de serviços em detrimento dos interesses de uma pessoa.
Algumas pessoas argumentaram que foi devido ao “interesse da justiça” e uma atitude para “comprovar a eficácia do Poder Judiciário para promover suas decisões”, porém, para mim não passou da defesa do interesse particular de duas pessoas que fizeram merda e estavam querendo concertar tudo usando a estratégia Xuxa.
No final, depois de ver que fizeram besteirada da grossa, resolveram voltar atrás e retirar o embargo ao YouTube. Ótimo, tudo voltou ao normal! Errado! Errado! As coisas não voltaram ao normal, porque olha só o que o meritíssimo desembargador Ênio Santarelli Zuliani escreveu sobre o fato em seu despacho:
O incidente serviu para confirmar que a Justiça poderá determinar medidas restritivas, com sucesso, contra as empresas, nacionais e estrangeiras, que desrespeitarem as decisões judiciais. Nesse contexto, o resultado foi positivo.
Sabe o que isso parece? Quando você chama a pessoa pelo nome errado por não lembrar o verdadeiro e depois solta um "poxa, eu estou distraído, desculpa aí, João" - e nessa erra de novo, porque o nome do figura era André.
Sem contar que se toda a vez que o Judiciário quiser defender algum "interesse nacional" fizer um embargue, logo teremos uma fila de pessoas batendo na porta do Planalto reclamando de crimes contra normas internacionais de comércio. Isso pareceu aquela história do menino que tinha uma bola e brigou com os amiguinhos durante o jogo, então ele foi embora, levou a bola e disse: "se eu não brinco, vocês também não".
Depois do fuzuê armado, veio o que eu chamo de “ressaca ideológica”, que é aquele movimento que acontece depois que a indignação passa e as pessoas começam a falar coisas como “ah, não foi tão ruim assim”, “eu até concordo com o ocorrido” e “olhem bem, eles até tinham razão”.
Todas as pessoas agora começam a defender a Cicarelli, defender a decisão da justiça e achar que o pessoal pegou pesado nos protestos. Isso é conformismo besta, pois foi feita a cagada sim.
Até o meritíssimo desembargador Ênio Santarelli Zuliani diz que não pediu para que retirassem o site do ar e que ele só queria impedir o vídeo.
A dona Cicarelli aparece no Jornal da Globo e fala que não tem nada a ver com isso, que a decisão de tirar o YouTube do ar não foi dela, mas sim do meritíssimo desembargador Ênio Santarelli Zuliani , que o processo, na verdade, não pedia para remover o site do ar. MENTIRA, o processo pedia para que os vídeos fossem removidos do YouTube e SE não fosse possível fazer isso que o site fosse tirado do ar enquanto essa decisão não fosse acatada pelo mesmo.
Também foi dito pela garota aí que ela não abriu o processo! Epa! Epa! Como diabos alguém monta um processo e seu nome consta nele sem a sua ciência? Pode parando, não é possível sem o aval e a assinatura da senhorita Daniela que o processo tivesse corrido com seu nome incluso nele. Isso é tão certo quanto a inexistência de um crime sem alguém para fazer a acusação!
Concordo que ela não tem motivo para pedir desculpas pela retirada do YouTube, mas devia criar vergonha na cara e pedir desculpas pelo processo idiota que abriu, já que ele foi a besteirada maior que ela poderia cometer (quem mandou não segurar a sua periquita sossegada e correr pro mar ao invés do quarto) e gerou o fato final garantido pelas “mãos abeis” da justiça brasileira.
No final, fica todo mundo esquece o que aconteceu e começa a achar que foi uma coisinha à toa. Típico da memória curta do povo, mas a minha não é curta e eu não sou capacho!
O fascismo contra MTV
A MTV Brasil não tinha nada a ver com o pato? Não, não tinha, mas as pessoas tinham que procurar uma forma de serem ouvidas.
O boicote foi fascista? Ah, pode parando! Essa declaração foi uma das mais retardadas e estúpidas que alguém podia dar em sã consciência.
A atitude apenas foi radical para que uma ação fosse tomada e a população usou da única arma que tinha em mãos. O boicote a MTV foi uma atitude pacífica, utilizando de forma inteligente o poder dado ao povo que é o da liberdade de escolha.
Ninguém determinou a obrigatoriedade das pessoas em deixar de assistir a MTV ou foram radicais ao ponto de dizer que nunca mais iriam assistir a programação.
Os telespectadores utilizaram da ferramenta que a emissora iria entender, afinal, isso afeta sua receita através de sua audiência.
Não é assim que uma emissora de televisão determina qual programa deve ficar ou não? Se ele tem boa audiência, então ele fica? Foi uma maneira de fazer a voz ser ouvida e sentida.
Daqui a pouco vão falar por aí que o direito de greve é uma atitude fascista!!!!
Ah, senhor Zico Góes, o senhor disse: Mas repudiamos a história do boicote, porque ela flerta com o mesmo espírito fascista que quer atacar.
Por favor, preste atenção, não precisava ter soltado essa pérola, afinal, ninguém estava falando que a MTV era a favor da censura, os seus telespectadores foram afetados de alguma forma por uma merda causada por uma de suas funcionárias e tem todo o direito de se mobilizar para fazer sua voz ouvir.
Se todos os telespectadores não quiserem assistir o seu canal por que não gostam de uma de suas funcionárias, meu amigo, o problema é todo seu!
Poxa, demitiram a Soninha da TV Cultura só porque ela saiu na capa de uma revista falando que fumava maconha – nem foram os telespectadores que pediram!
Qual é o verdadeiro crime e de quem é a culpa afinal
O que aconteceu de fato não é que tiraram o YouTube do ar, consigo viver muito bem sem ele. A verdadeira merda foi uma decisão judicial interferir no direito de livre expressão em detrimento de uma decisão defendendo valores pessoais. O tal vídeo não está em questão, afinal, quem deu brecha pra ser pego trepando em local público foram os dois, mas essa é uma discussão para outro momento, já que eu acho que se eles fizeram merda e filmaram eles, o problema é deles por não conseguirem manter a sua genitália dentro da calça (se você não sabe, ser pego em flagrante trepando em local público aqui no Brasil dá cadeia, viu?).
O crime foi uma decisão exacerbada colocada em prática de maneira vergonhosa. Você não dá uma sentença quando não sabe se ela pode ser aplicada, seria mais ou menos como determinar que todos os estupradores fossem castrados geneticamente, através de utilização de transgênia. Isso é possível? Não sei, mas eu quero que todos eles virem homens transgênicos, se não der, então que cortem as suas bolas!
Pensando dessa forma, então quer dizer que vão tirar os blogs do ar porque tem um monte de retardado que espalha por aí um monte de besteirada e ofensas? Uma sociedade livre é livre, não existe o conceito de semi-liberdade – você é livre ou não!
O crime, amigos, foi que a atitude consistiu em censura, mas pra economizar argumento e mostrar outras fontes, no blog Infomniac tem um material interessante, no post Imprensa no censurada no Paraná, de outubro de 2006. Lá consta um pedaço de um comunicado da ANJ que diz:
A proibição de informação é censura prévia, terminantemente proibida pela Constituição. A ANJ condena a decisão do juiz e protesta contra o cerceamento ao direito dos cidadãos de terem acesso às informações. A operação da Polícia Federal não pode ser considerada como parte do segredo de Justiça que protege o processo. O segredo de Justiça se refere às informações contidas no processo. Diante da operação da Polícia Federal, cabe aos meios de comunicação decidirem como e o que divulgam. Tudo mais é censura e restrição à liberdade.
Agora, vamos dar nomes aos bois: quem são os culpados?
A culpa é do desembargador? Sim, é! Afinal, foi dele a decisão final, mas acho também que o processo judiciário peca nessas horas, dando a palavra final de decisões a uma pessoa podemos cair problemas sérios – e se ele fizesse uma besteira desse teor e influenciasse de fato a vida das pessoas? O YouTube não causou problema algum na maioria dos usuários de Internet e cidadãos, mas isso poderia ter sido pior (claro que se isso fosse acontecer outras pessoas iriam soltar os cachorros antes da decisão, principalmente se fossem perder $$ com isso).
A culpa é da Cicarelli e do namorado? Sim, é! Ela entrou com um processo que não tinha fundamento, solicitando que seu vídeo fosse tirado do ar, mas as alegações de calúnia e difamação procedem? Ou o uso indevido e não autorizado da imagem? Ela não tem direitos autorais sobre o vídeo e ele tem cunho jornalístico (mesmo que sensacionalista, já que o assunto em questão é o flagrante dela e do namorado se esfregando em local público (a justiça e a imprensa insistem em usar “supostas cenas de sexo”, mesmo eu achando que aquilo era sexo de fato – mas esse é o famoso dilema Bill Clinton).
As teorias de conspiração
Tem gente falando por aí que a Brasil Telecom e a Telefônica acataram a decisão rapidamente porque isso interessava na economia de banda deles e mais um monte de coisas.
Parem com isso, o problema aí é bem maior do que isso. Não tem interesse em economia de banda, mas sim o de evitar multas desnecessárias. O barulho todo foi por conta do aceite deles, já que a multa não era pequena (vai por mim, é só ver os valores lá do impedimento da justiça).
O que aconteceu, de verdade, foi que uma pessoa sem conhecimento de Internet foi opinar em algo que não deveria sem consultar nenhuma entidade regulamentadora do órgão, tal como é o CGI (Comitê Gestor da Internet no Brasil). Aqui, valeu a vontade de uma pessoa que achava que entendia alguma coisa e queria que a sua vontade fosse executada. Para decisões desse porte você precisa de consultoria técnica especializada.
Concluindo
Cada um trepa onde quer e quando quer, mas que arque com suas conseqüências.
Só peço que, por favor, da próxima vez que alguém pensar em bancar o gênio e querer resolver um problema do qual não entendem lhufas, pergunte a quem entende pra não fazer burrada.
Como diz o provérbio chinês: aquele que faz uma pergunta é um tolo por cinco minutos; aquele que não pergunta continua tolo para sempre.
Tenham isso em mente sempre!
Ah, e eu vou continuar com minha campanha de boicote a Cicarelli sim, como eu vou continuar não concordando com esse monte de merda que tem por aí, vou continuar falando o que eu penso, sempre!
2 comentários:
Não vou chutar o roedor. pelo contrário. Concordo totalmente com o que você disse e o tal boicote, do qual eu nem fiquei sabendo, pois se ficasse teria participado (mas pera, eu nunca prestigiei a ciocarelli...) é uma noção de que nem tudo está perdido. Se as pessoas se mobilizaram por questões ideológicas, o Brasil ainda tem jeito. Pode demorar 248 anos mas chegamos lá um dia.
Mas para isso acontecer, a Justiça brasileira precisa se tocar e chegar logo ao século XXI. Aliás, pulando o XIX e o XX. A declaração do desembargador pós-evento foi digna de pena. Ele quis foi aparecer e se assustou com a reação negativa das pessoas.
Eu odeio ser piada no resto do mundo, portanto, viva a liberdade de expressão. A Ciocarelli e seu marido playba e rico que vão fornicar entre 4 paredes.
Eu fiquei por fora dessa história, estava viajando (por um acaso, com a MTV prum progama de verão, haha).
Um beijo,
Poe.
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