2.5.05

Carta vazia a Ninguém-Em-Especial

De algum lugar em minha consciência ébria por tanto vinho tomado, aos dias do maio frio do ano corrente.

Para o amor da minha vida, a quem amo tanto.

Não sei como dizer-lhe como me sinto sem ferir a mim mesmo, pois é tão certo quanto amanhã o sol levantará um novo dia que não gosto de assumir meus erros. Sim, é nisso que acredito, que eu errei em acreditar nos aspectos mais nobres da natureza humana; não é apenas sobre o que passamos que digo, é sobre o todo que me engloba e esse mar de infrutíferas tentativas de me relacionar de forma clara e desejosa com quem permito que se aproxime de mim. A carne não parece mais sedutora aos meus olhos e uma ojeriza maldita toma conta de mim toda vez que vejo que o que faz os corações pulsarem são a lacívia e o desejo.

Sinto-me tão menos nobre do que ontem, talvez por ter notado que essas coisas todas que me incomodam e machucam são manobras naturais humanas, ou seja, eu também erro, também faço as mesmas coisas, só que em ordem diferente. Não sou tão imprevisível ou inconstante como achei que era, não sou uma pessoa diferente – sou igual a tantas outras pessoas, droga, olhei-me e me descobri humano. Quanto mais tentei me sintetizar, tornar-me objeto inanimado, mais humano fiquei; talvez isso seja conseqüência direta de entender os aspectos e fragilidades da natureza do ser. Acabei tornando-me um filósofo, mas desses bem pequenos e baratos, porque só questiono a mim mesmo e a condição que me afeta diretamente agora.

Posso ser um romântico disfarçado de prostituto e vendido, posso ser um homem com rosto e atitudes de garoto, mas no fundo, o que guardo aqui é um buraco do tamanho do universo, tão grande quanto tantos outros buracos que algumas pessoas que eu conheço guardam em si mesmas.

Tremo a noite com esses pensamentos, pois me afeta diretamente o desejo por atenção e necessidade por notoriedade. Não, não é esse tipo de notoriedade que quero; não desejo ser famoso, desejo apenas ser notado, nem que seja por uma pessoa além das que querem a minha morte. Está certo que não tão ruim assim que mereça morrer por meus pecados, nem mesmo acredito que mereça punição, mas o faço todos os dias quando me questiono, quando questiono o coração.

Nesta hora é que invejo os ignorantes. Aqueles que não tem conhecimento de si mesmos são mais felizes, não precisam assumir seus erros e nem mesmo explicar suas situações para sua própria alma. Já disse antes isso tantas vezes que não tenho a conta acertada – e nem a desejo ter, quero ignorar essa minha redundância da dialética.

Você pode nem se importar de fato com o fenômeno que nos acomete, nem mesmo com essas letras que soltamos quando dialogamos a distância, mas o que importa de fato é que não significamos nada a um ou a outro. Essa é a verdade. Nem a mim mesmo significo alguma coisa, sou a metade de um cérebro isolada da outra – não me compreendo mais do que poderia compreender aqueles que vivem comigo diaramente, mas disso eu só sei daqueles que não deixo se aproximarem de fato de mim.

Paradoxal, sempre. Afinal, ser simples é muito menos seguro do ser complicado. Pode parecer até hipócrita, mas é maquiavélico esse modus operandi. Sim, explico-lhe o motivo: quando pensamentos de forma simples e nossas ações podem ser medidas a qualquer momento, uma palavra dita passa a ser o que ela significa de fato. Ser vago, obtuso ou prolixo é mais seguro, pois quando você se utiliza dessas armaduras impede que o que você tenha dito tenha o significado desvendado; você pode, então, torcer as suas palavras, explicar mais detalhadamente um sentimento ou idéia que pode soa delicado a minha mente. Aprenda com isso. Aprenda se proteger dos insultos, dos erros e dos exageros, para que usar a palavra certa se a metáfora pode ser tão mais ampla?

Não me importa o que sente agora, pois eu não me importo com o que sinto a anos, desde que pela primeira vez cometi um assassinato e senti o sangue correndo por minha mãos trêmulas. Não pasme com essas linhas, eu já matei antes, várias vezes, e não deixarei de matar agora, pois virei um criminoso sedento por mais imagens sórdidas. Reincido nos crimes de outrora sem medo, mato personalidades na mesma velocidade que as crio; incendeio audeias, países, civilizações inteiras caem sobre o meu pensamento – sou o ditador mais cruel que conheço, sou o Deus sem misericórdia e vingador, tal qual o do Velho Testamento, o qual todos temiam e não esperavam amor.

Como queria que você compreendesse as entrelinhas, como se fosse possível mesmo que eu lhe desse a receita, pois você ignora o código que uso, mesmo que ele seja aquele que uso em todas as horas. Você é minha contraparte, meu Nemesis e meu recheio perdido, só que não sabe quem é tanto como eu não sei seu nome em toda a minha vida.

Você já foi tantas. Você já foi amante, já foi amiga, já foi namorada, já foi companheira e já foi a mais odiada; foi tanta coisa que não sei mais quem o possa ser. É estranho ter mais essa certeza, que a "incerteza é a única coisa que você pode esperar".

Queria tanto lhe tocar o rosto mais uma vez, mas não sei ao certo se seria uma carícia ou um tapa, pois me agrido a cada momento que acredito que o amor é algo concreto que abstraímos para que ele seja impossível.

Vou seguindo o meu caminho, enquanto você segue o seu. Vamos sendo duas Berlins em uma, em plena década de cinqüenta – é mais romântico se achar dividido ao meio do que assumir que todos somos tão idênticos que só somos estranhos quando comentos os mesmos erros.

Espero que continue em sua caminhada, sendo ela curta ou longa, e que lá no meio da jornada não sinta nunca remorso ou culpa.

Com todo o carinho que posso nutrir com as mãos sujas de sangue, do seu amor que fugiu com a empregada mensalista.


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Texto meu, escrito em uma inspiração mesclada a desabafo e a idéias de várias pessoas. O eu poético pode até não ser eu mesmo, muita mentira foi contada acima, mas vale somente separar o que é verdade a quem interessar me conhecer de fato.

4 comentários:

Anónimo disse...

Tio?? HoHo.
>.<

...

Comentar o texto não.
Idéias aki.
Mas ao invés de despejar,
vou beber.
Goles curtos e longa pausa entre eles... pra q não acabe logo.

Mania de me identificar com os textos. *_*

POEta.
Filósofo.
POE.

Anónimo disse...

"Nesta hora é que invejo os ignorantes. Aqueles que não tem conhecimento de si mesmos são mais felizes, não precisam assumir seus erros e nem mesmo explicar suas situações para sua própria alma. Já disse antes isso tantas vezes que não tenho a conta acertada – e nem a desejo ter, quero ignorar essa minha redundância da dialética."
É, também invejo os ignorantes... muito.
Pena vc não ter ido ver o cabelo do Igor, foi bem engraçado.
Beijos.

Anónimo disse...

resolvi fazer a mesma coisa.. reativei o meu blog.... textos e devaneios pra lá... afinal... às pessoas que visitam o meu flog, em sua maioria nao interessa o que penso ;)

Anónimo disse...

Poe! preciso falar com vc! Entra em contato pelo tel 41696537 ou 81232499, ou me passa algum telefone teu de contato! []s!