29.6.05

Sinfonia de Nadas - só uma verborragia pro ou por acaso (a preposição pouco importa).

Alergia maldita que não me deixa dormir. São 01h29 da madrugada de terça-feira e eu aqui, parado na frente do PC, com um disquete para salvar a informação porque eu não estou com acesso a Internet em casa. A televisão ligada às minhas costas, passando “Sexy and The City” e a minha amiga (e roomate) deitada no sofá assistindo. A voz da Sarah Jéssica Parker (?) ao fundo e aquele melodrama de uma cidade enorme, com uma fauna sexual vasta e todos aqueles problemas de relacionamento que chegam até a dar no saco.

Queria poder dormir, mas a soma de rinite, asma e euforia está me deixando agitado. Nem o rádio consegue me colocar pra desmaiar, nem a vontade de sonhar e acordar amanhã para que o amanhã venha mais ligeiro. Sou feito de agoras (ainda vou patentear essa frase), mas queria tanto um amanhã, uma leve acelerada nos dias e nos meses, para que alguns objetivos se tornassem concretos.

Hoje eu tenho metas, não sonhos, e isso me assusta de uma forma nova. Nunca na minha vida me senti tão “adulto” e estou olhando para mim e vendo que cheguei em um ponto que é preciso começar a colocar as decisões passadas para valer. Agora faz sentido seguir adiante com uma postura mais responsável, mesmo que a minha vida seja feita de um glamour que a maioria das pessoas não consegue entender. Eu vivo na urgência, quero tirar o máximo proveito de todos os instantes que eu tenho, não quero perder nada e até mesmo o que é ruim acaba sendo do meu agrado.

Não me levo para baixo, mas quando vou em direção ao que é ruim vou com o mesmo anseio de quando vou em direção a algo bom. Abraço o Paraíso e o Inferno com a mesma força, não tenho que me livrar do que me é amargo só porque é do feitio da maioria o fazer. Prefiro tirar uma lição de tudo e hoje eu tiro leite das vacas gordas. Posso não ter tudo o que eu quero, ser tudo o que eu desejo e estar onde eu penso que poderia estar, mas agora tudo tem um encaixe diferente e a máquina gira suas engrenagens em direção de um caminho mais aprazível.

Estou vivo. Sinto o corpo pulsando e tudo o que guardo em minha mente já não importa muito, nem o lugar onde deve estar cada imagem. Não julgo mais fantasia ou realidade, apenas vivencio o que as duas me dão de melhor. Fantasio na realidade e realizo na fantasia, tudo é medido de um forma praticamente maníaca - tenho a compulsão de inserir-me nesse contexto, não sei porque diabos.

Então, descubro-me uma pessoa nova, mas não inédita. Sou a repetição de tantas coisas que me cercam que acabo sendo uma colcha de retalhos de impressões capturadas por minha alma. Sou raso e profundo, sou Gita do Raul Seixas mas sou também Sex Bombdo Tom Jones. Sou uma música do Placebo mas acabo tendo muito mais cara de Legião Urbana. Sou um amontoado de cifras mesmo que eu não saiba nem tocar Do Ré Mi no violão. Sou incompreensível para mim mesmo e não me imagino compreendido por ninguém.

Só que eu encontrei o meu lugar, mas desejaria agora estar naquele “local mágico onde os sonhos nascem”, pra lá da Terra do Nunca, mas não deitado do lado do Michael. Preferia ser Michael, mas não o Jackson; gostaria de ser o Michaeldaquela música do Franz Ferdinand, “a beautifull boy in a beatifull danceflor”. E não sou? Posso não ser um rapaz bonito, mas vivo em uma pista de dança, mesmo que não seja em nenhuma casa noturna, em um club.

Vivo em meu bailado por todos os lados. Pulo para onde a música pede que eu pule. Desvio das bitucas de cigarro e dos copos que derramam a bebida em minha direção. Salto por entre os corpos, navego por entre o suor, a fumaça e a luz estroboscópica. Danço, danço e danço. Meu bailado pode não ter a graça que eu gostaria, mas sóbrio eu continuo sendo eu mesmo - ébrio eu sou eu mesmo ao quadrado.

Enquanto eu me procuro não me acho, mas quando olho para o lado é que eu me enxergo. Estou lá, refletido em dois olhos castanhos, em um mar de paixão distorcida num reflexo de um olhar. Estou fitando o que eu desejo, mas não é o meu reflexo no mar marrom que vejo no horizonte. Sou sugado pelo maëlstrom que vaguei por minha mente, um redemoinho castanho que me leva ao fundo.

E entendo as palavras do Renato Russo, mesmo que nunca essa música maldita me venha a mente além do agora (e os agoras me vem sempre, paradoxalmente sobrepostos): “é preciso amar / as pessoas como se não houvesse amanhã / porque se você parar pra pensar / na verdade não há”.

Martela esse refrãozinho em minha mente, somado a tantas outras letras da minha aborrecência, talvez por eu ter ouvido Legião Urbana demais e Engenheiros do Hawaí de menos - ou seria o contrário? Não, minha infância foi repleta de Elis Regina, Roberto Carlos, Belquior, Chico Buarque, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila e Benito de Paula, mas também eu tive as minhas diversões em Balão Mágico, Três Patinhos, Menudo, Dominó, Polegar, Titãs, Iron Maiden, Plebe Rude, Guns’n’Roses e mais um apanhado de nomes. Só que eu não entendo porque diabos algumas letras se fixaram tanto, mesmo quando eu cantava erroneamente “homem que mata, capitalismo selvagem”.

Antes eu era um ridículo assumido, oitentista, filho da década do mau gosto (o pior é que o mau gosto voltou e agora é hype, como diz um amigo meu: “quando as ombreiras voltarem à moda será o último sinal do Apocalipse!” Sic), senhor das idéias ruins que tinham todo aquele ar místico de genialidade.

Hoje sou um ridículo disfarçado, com pés-de-galinha brotando nas laterais do rosto e olheiras fundas de não dormir direito.

Hoje sou um ridículo disfarçado de inteligente, herança dos publicitários que nasceram junto comigo (ô, profissão de merda - minha mãe sabe do que eu estou falando), talvez por ser incompetente e não conseguir ser ridículo de verdade. Prefiro os tapas na cara do que os tapinhas idiotas dados nas costas que vem no pacote, amarrados com os sorrisos amarelos e os compreendos paraguaios.

Vou continuar sendo esse babaca e ficar cantando Legião Urbana por todos os cantos, porque hoje, talvez pela visão puxada dos pés-de-galinha, eu entenda os meus pais e saiba que o Belquior tinha razão (mas pelo amor de Deus, cantado pela Elis).

No final das contas, dessa viagem insólita entre a minha mente desperta quando era para estar dormente ainda, sobrevive alguma lucidez sincera, perdida em meio a tanta genialidade hipócrita: a imagem de um rosto que eu queria agora ao meu lado e não gostaria de que saísse daqui jamais.

Agora eu volto pra cama, mas vou sozinho. Meu colchão de solteiro nem é tão solteiro assim, mas ainda falta muito para eu estar onde eu queria de verdade.

Um dia eu ainda vou ter carro, casa, gata chamada Cleópatra, cachorro chamado César e um periquito chamado Esperança. Um dia eu terei você ao meu lado, passeando pelo parque de mãos dadas e olhando saudoso para as balanças.


28/6/2005 01:57:24
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Sim, o texto foi escrito na terça e eu estou publicando hoje. Pobreza é foda, o disquete tinha dado pau e eu só consegui fazer essa meleca agora.

1 comentário:

Anónimo disse...

Porque eu amei o texto. Pq eu adoro qdo vc escreve assim.
E pq vc é tudo de bom meu caro coelhinho... :)
Love ya...
saudade.
beijos