10.9.02

É, hoje o dia foi comum. Trabalhei. Milagre! O fim de semana realmente serviu para dar novo ânimo. Queria ter ligado para a Marjorie hoje, fiquei preocupado com ela - ontem meu celular resolveu pifar e o telefone de casa não estava tocando até a gente arrumar ele hoje na hora do almoço.

Liguei para muita gente, pensei um pouco nas coisas que ando fazendo e tenho que terminar um monte de projetos profissionais. Depois preciso pegar os money free para fazer. É muita coisa: Sepulcro das Lágrimas, A Toca do Coelho, Bilge.ws, Tolere.org, Hellsgates... puxa, é tanta idéia que nem sei se vou cumprir todas ou devo me prender a uma ou duas. A "Toca do Coelho" acho que vai ser modificado e virar meu blog, além do que posso colocar todos os links das coisas que produzo aqui dentro. Acho que seria seria uma boa transformar ele em um ou dois diários virtuais, vamos ver se alguns loucos gostam da idéia e pegam ela comigo.

Falei com a Diana pelo icq hoje no começo da noite. Que chato você se acostumar com a presença das pessoas rapidamente e achar que elas estão do lado da sua casa e quando você se dá conta estão a 100km, 200km, 500km ou um zilhão deles longe de você - principalmente quando a companhia é boa e aquece o coração gelado!

Lembrei de um episódio interessante, é bem longo, mas gostaria que todos que passam por este blog dessem uma lida, suponho que irião conhecer um pouco mais do Poe aqui:

Quando a gente lê uma poesia ou um conto nunca nos damos contas da real extensão das metáforas e o que elas realmente querem dizer. Eu sempre "entendi " o que Machado de Assis quiz dizer com "os olhos de ressaca de Capitu"; sabia que ele se referia a amplidão da idéia de ressaca do mar - ela vem com força sem igual, arrasadora, em ondas e arrasta tudo para a frente, mas quando volta traz o que estiver no caminho com uma força descomunal; é uma força da natureza, intensa, enigmática e forte; o pior dessa imagem é que ela cabe em dois substantivos e uma preposição, "olhos de ressaca". Mesmo estando ciente dessa amplidão e desse sentido da metáfora eu nunca tinha vivido isso.

Pessoalmente acho os olhos do ser humano algo fantástico e enigmático, realmente são os espelhos da alma; com essa imagem na cabeça observei alguns olhares fantásticos e atraentes. Chamei os olhos da Érica outro dia de "olhos de ressaca" pelo ICQ, mais como uma lembrança do poema e da metáfora, porque é um desses olhares cheios de palavras mesmo quando estão em fotos (aqueles que não exigem sorriso, que não exigem expressão maior no contexto facial do que ele mesmo - o olhar). O olhar da Érica é assim, como o de outras pessoas especiais na minha vida (da Marjorie, da Liliane, da Carol, da Fernanda, da Déia, do Grégory, do Yves, da Ana Paula, da Lu e da Tati), só que eu achava que isso eram olhos de ressaca. Ah! Como eu estava enganado.

Lá dentro de mim eu nunca tinha sentido esse arrastão que leva você com força sem que você consiga segurar em nada. Tudo a sua volta parece areia, mesmo que sejam pedregulhos ou cimento - e sua mão escorrega e você vai com tudo em direção a eles. Aprendi que eu estava "mais ou menos certo" e só conhecia a teoria da coisa, nunca tinha presenciado "olhos de ressaca". Acho que outras pessoas também estão erradas e também suponho que algumas morram sem conhecer de fato o significado dessa expressão tão famosa, ou melhor, de sentir o seu significado.

Nesse fim de semana descobri o que significa essa expressão. Mesmo não sentindo tantas outras coisas no pacote ou de ter passado por aqueles choquinhos que você sente por toda a pele (a Carol que falava isso, também falava que era tão bom que até doia o peito; sei bem do que ela falava e compartilhava do mesmo sentimento); tenho uma sinceridade que acho até cruel às vezes, mas estou falando tudo o que acho e penso sobre o assunto - realmente senti-me tragado.

O olhar da Diana é assim: são exatamente olhos de ressaca. Arrastaram-me com força, até tentei me agarrar, mas não dava para resistir pois eles derrubam as vigas espetadas e puxam você como se tudo fosse mesmo areia. Fui com força e me senti assim, puxado, tragado, rebocado, arrastado e sem reações a não ser largar o corpo deixando que os olhos me levassem. Dói ser sincero, mas entendi a metáfora e disse isso para ela (parece até mesmo um discurso decorado, mas quem me conhece de verdade sabe que não é!).

Eu parecia um aluno que tinha entendido finalmente porque dois mais dois são igual a quatro! Foi um "EURECA"! Descobri a lampâda, o telefone, a gravidade ou qualquer outra coisa de importância em escala global. E tudo era porque eu tinha entendido de fato uma metáfora. "Olhos de ressaca"! Ficou na minha cabeça e hoje o dia inteiro eu fiquei lembrando - em um segundo me senti como se estivesse lutando horas contra a maré até ser vencido pelo mar. "Olhos de ressaca"! Aprendi de fato o que tem seu significado e morreria feliz hoje por ter descoberto (e sentido) o que realmente isso significa. "Olhos de ressaca"! "Olhos de ressaca"!

É, mesmo que outros olhem ou tenham olhado para os olhos dela acho que não vão entender como eu entendi naquele momento e tenho certeza de que não vou querer perder de vista aquela lembrança. Não quero que sejam lembranças distantes, pois quem um dia entende porque as gaivotas amam o mar não deixa de vê-lo com frequência!

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