15.12.09

A Princesa e a Torre

Um sussurro, uma estrela,
Um vento pela janela.
A entrada foi mais estranha
Do que as entranhas
Que se dividiram ao meio.

Veio a carícia, meio murcha,
Mas sincera em minha nuca.

Houve o toque, não realizado,
Dos tantos beijos embaçados
Que ficaram em minha memória.

Fizeram-se verdadeiros os votos
De igualdade enquanto mortos:

Somos a mesma pessoa em duas,
Partes dos mesmos momentos
Divididos em ponteiros lentos;
A saudade só nos melhora.

Poe Bellentani

Estática

Os comprimidos desceram rolando pela goela adentro. Algo disparou o gatilho, não foi culpa de nada físico e nem mesmo uma música besta, apenas a cabeça disparou duas ou três paranóias das bem pesadas.

Augusto olhou para o espelho enquanto os comprimidos desciam secos – não havia tempo para a água, a angústia era mais veloz do que a torneira.

Mais dois, sacados como um cowboy de programa de TV antigo. Goela abaixo, corpo adentro.

O alivio não veio como o imaginado. Nada de “alivio imediato para a depressão ou o seu dinheiro de volta”. O relógio continuava batendo os ponteiros, os gatos continuavam trepando nos telhados e a vizinha do 207 continuava trepando com algum de seus muitos amantes no andar de cima – a cama pulava.

No tic-tac dos momentos nada se perdeu. A televisão ligada sem nada passando, nada além de estática, era o abajur perfeito. A fumaça de 20 cigarros desenhava seus padrões pela casa, serpenteando como dançarinhas do ventre em restaurante barato no centro de São Paulo.

Dois segundos separaram o que tinha sentido do que havia para sofrer – e esses sofrimentos não são facilmente explicáveis, eles apenas vem. Se a angústia tivesse forma, ela seria um daqueles abajures “plasma” da década de 70: horríveis, mas todo mundo sempre vai admirar um em sua vida, com aqueles imensos olhos de criança que viu Papai Noel de shopping.

Então, Augusto olhou para suas mãos e sussurrou:

- Bateu...

Seus dedos formigavam primeiro, seus olhos embaçaram e a angústia agora parecia a Madonna. Não a atual, a Madonna gostosa do Erotica. Ela vinha rebolando, sensual, acariciando seus cabelos e fazendo aquele biquinho de super modelo da década de noventa. Ah, Naomi Angústia e Linda Depressão!

O mundo de Augusto girava e os giros tinham compasso distorcido. Deitou no sofá. Lá, descobriu um universo novo. Eram milhares de sensações, de anseios misturados em um novelo de expansões. A vida se resumia àqueles segundos.

Deitou a cabeça sobre os travesseiros de tema de quadrinhos. Abraçou um deles como se fosse os braços de sua mãe. Sorriu.

Exatamente, as duas e trinta e cinco da manhã, descobriu o que era o alívio da dor. Não morreu, mas lá no fundo do seu ser sentiu que faltava algo ao seu lado.

Comprou no dia seguinte um cachorro e nunca mais tomou seus comprimidos.

Poe Bellentani

-
Lembrem-se que contos não são autobiográficos, não em sua totalidade, mas talvez em algumas metáforas. O “eu poético” se esconde entre os dois mundos.

Ao som de Feel Good Hit Of The Summer - Queens Of The Stone Age

14.12.09

Separados no nascimento 2

Interrompendo a programação normal de divagações e spleen garantido (desculpe se você vem aqui atrás disso, mas a minha toca é o lugar mais bagunçado do mundo - mais que a minha área de trabalho em casa, peço desculpas).

Da série "separados no nascimento" para rir muito e achar a coisa "mara" ou, como dizem atualmente, fazer o final de dia "brilhar muito", lá vai:

À esquerda, Robby Rosa, dos menudos (que hoje tá com visual de rapper e gangsta porto riquenho de bigodinho de cobrador). À direita Richarlyson (só o nome é foda e garante boas risadinhas ao menos), jogador do São Paulo com seu novo visual inspirado no Ronaldo Gaúcho (?!?! o.O).

Não preciso dizer MAIS nada.

O Relógico

Os olhos de lágrima se encheram:
Era festa em seis de Fevereiro.
Em dias assim não há mágoa que dure
Enquanto duas mãos o tempo segure
E não se soltem na passagem dos anos.

No banco da praça um sorriso, um canto.

Foi aqui que os ventos comeram
O bonito que era caro no começo
E se enferrujou com os muitos anos:
O que era um belo dueto de piano
Tornou-se um solo murcho e lúgrube negro.

No banco agora há só um sorriso de canto.

Os amantes se vêem como amigos,
Os amigos ignoram os amantes.

Do que era inteiro ficaram as partes
E das partes só restaram os instantes.

Poe B.

Só as vezes tento poemas, mas penso e respiro eles a todos os instantes.

Um pouco sobre o estar e o não-ser

Já falei muito do “ser” por esses tempos, talvez tenha sido devido aos momentos de auto-análise e tentativas absurdas de se achar. Pobre Coelho, não adianta correr em círculos quando, muitas vezes, o problema não é em ser, mas sim em estar.

“Como assim, maluco? Isso é coisa do Chapeleiro!” pode pensar você que devora essas linhas absurdas! Não, não é. Existe um preceito do budismo que diz que nada é, tudo está. Isso quer dizer que as coisas são transitórias. Gelo vira água, que vira vapor, que vira chuva ; quando ela vai até o topo da montanha vira neve, que é gelo, um dia derrete e vira água, recomeçando o ciclo de mudanças. E isso é com tudo, com a vida, com as coisas, com os problemas e com nós mesmos.

Parece um conceito estranho para a maioria das pessoas, mas é fato. Nenhum estado é eterno, nada é constante e, por mais que nos agarremos ao status quo, tudo muda, mesmo que não percebamos. Você acha que o amor que você sentia é o mesmo que há 10 anos? Ele mudou, para melhor ou para pior, cresceu ou evanesceu, mas mudou. O mesmo vale para suas idéias, pensamentos e desejos – você mudou, eles se multiplicaram, dividiram-se, completaram-se ou apenas deixaram de ter a mesma intensidade (para mais ou para menos).

Aí , nessa eterna mutação das coisas você se observa, olha para trás e para frente, respira fundo e vê como é engraçado que você pode achar que não mudou nadinha, mas se o mundo a sua volta mudou tanto, se os amigos mudaram tanto, se sua família mudou tanto e se o que você sabe mudou tanto, porque então diabos você não há de ter mudado também? Se suas idéias se dobraram só um pouco, mesmo que seja ínfima a mudança, você não é o mesmo, deixou de estar de um jeito e foi para outro.

Não há como dizer que o universo é estático e muito menos que a vida é assim. A única coisa parada a nossa volta é a vontade de voltar no tempo, porque esse desejo não muda jamais – desde que o homem se deu conta do Eu. Tá, ele muda de intensidade - cai na minha própria armadilha de conceito! :)

Portanto, estar em um lugar pode parecer estranho, mas estou aprendendo a largar mão de alguns dogmas e, de agora em diante, o que é mais necessário é cultivar “essa cultura de estados”, modificar-se mais por dentro e por fora, assumir-se como ser dinâmico e expor isso a si mesmo (que é mais importante do que mostrar ao mundo).

Nessas idas e vindas que pretendo, se não encontrar um estado que me agrade, passarei a outro, mas não deixarei de ser algo completo, porque no fundo, o conjunto de mutações em nossa vida define o Eu. Largar um pouco da crença no sólido não significa que deixamos de ser nomináveis como indivíduos, mas não somos sólidos, somos fluidos – assim como prega Musashi no “Livro dos Cinco Anéis”: fluído como a água e livre como o vento.

O olhar para si é sublime

Uma constatação quase mágica se faz surgir quando passamos a apreciar o que nos é sagrado, quando aprendemos a gostar de passar o tempo com nós mesmos e quando esse mundo de complicações nos bate a porta. Não vou falar aqui de epifanias porque já tive delas às toneladas nos últimos meses – foi quase como uma preparação para a despedida do que eu tinha.

Raramente em nossa vida podemos nos encontrar sozinhos e apreciar esses momentos, constatar que é bom passarmos momentos de solidão auto-induzida para que possamos identificar direito os aspectos que nos definem como indivíduos. Palavra bonita essa, né? Todo mundo usa para identificar pessoas: “Aquele indíviduo ...” em tom pejorativo, “o indivíduo estava..” em página de notícia policial ou, ainda, “mas vieram dois indivíduos e me abordaram...” para descrever um assalto.

Somos cercados por essa palavrinha, mas não identificamos ela como indicador de uma qualidade inerente a nós mesmos: somos pessoas diferentes, com gostos pessoais e que se devem completar por si só. Não, isso não é uma ode ao solteirismo adquirido ou a sensação quando passamos por términos de relacionamentos longos. Quero dizer aqui que temos que nos identificar antes de tudo e nos respeitar (obrigado, Laís, por me lembrar disso), saber nossas limitações e gostos, saber quem somos antes de continuar seguindo em frente.

Para quem você se arruma todos os dias quando sai do banho? Para que passar toneladas de cremes faciais na cara para se conservar novo? Para que um corte de cabelo que você acha bonito, mesmo que todos os olhares digam o contrário? Para que escrever textos e textos sobre você mesmo?

Não, não é complexo de pavão, hipérboles do ego para sair por aí mostrando quão interessante você é, mas sim a auto-afirmação do ser. Temos que gostar de nós mesmos acima de tudo antes de seguirmos por aí gostando do mundo – ah, e como eu gosto do mundo, quero agora aprender a gostar assim de mim mesmo!

Confesso que nos últimos tempos a minha misantropia chegou à beira da loucura, mas também confesso que o meu lado cosmopolita nunca vai morrer. A cabeça se reduz, seduzida pelas amarguras que a gente guarda quando as mudanças vem rápidas, mas o coração vai se contraindo como uma estrela anã que há de virar supernova - e sai da frente quando isso acontecer!

E quem não passou por isso? Se você, que lê esse texto, balançou a cabeça em negação, prepare-se, pois um dia ela baterá a sua porta. Quando as coisas dão errado e temos que mudar os rumos que achávamos certos, corretos e dogmáticos, as coisas se tornam sempre complicadas.

Nessas complicações atropelamos pessoas e sentimentos, mesmo que sejam só os nossos, mas faz parte, porque quando tudo se resolve e você é uma pessoa completa as coisas sempre ficam mais fáceis (inclusive os pedidos de desculpas).

A minha constatação mágica é exatamente a de gostar de tomar um banho e fazer a barba com calma, olhar para as imperfeições da face e sentir uma vergoinha dos cuidados que você deixou de dar a ela; é passar um perfume antes de ir pra cama e planejar que roupa irá no dia seguinte, gastando boa parte do seu tempo produtivo sendo produtivo para si mesmo.

Como é bom ler um livro, acender um cigarro sentado em seu sofá, ler algumas páginas e parar para pensar sobre o que está escrito nele. Como é bom criar personagens e amarrar suas histórias, mesmo que elas não se concretizem em contos ou poemas. Como é bom fazer o mesmo com um filme, sentado tomando um chá ou uma cerveja, pensando sobre o que tem lá que te prende tanto – seja filme “de arte”, cult ou mesmo um blockbuster pipoca.

O importante é se achar nessa confusão toda, no meio de twitters, blogs, fotologs e flickrs. Na nossa vida corrida já temos tanto para se pensar e tão pouco tempo para realizar que ficamos misturados a todos esses outros eus que estão por aí.

No final, somos o que somos, gostem ou odeiem, mas o importante é que nós mesmos saibamos a medida certa que devemos nos odiar e, principalmente, amar.

P.S.: A imagem é de Caravaggio, sobre Narciso.

7.12.09

Carta ao meu amigo imaginário

Chega um momento em nossa vida que achamos que não vamos conseguir suportar as coisas, que olhamos a nossa volta e só vemos obstáculos, que pessoas tentam tomar o que lhe é mais sagrado (isso de sagrado é meio falho, lembrem-se dos dogmas) e que você se defende com unhas e dentes dando cotoveladas para todos os lados, desesperadamente tentando manter protegido aquele pequeno tesouro que você tem em seus braços.

Neste processo você acaba acertando gratuitamente algumas pessoas que não querem lhe tomar nada, que vieram apenas lhe dar um tapinha no ombro para, honestamente, saber como você está. É como o pai, que na fúria por defender sua casa, acaba acertando um tapa perdido no rosto de seu filho.

Só que não há descanso nessa luta, quando você pensa que tudo está se ajeitando, os corvos voltam a bicar o seu fígado. Eterno dia-a-dia de Prometeu. Não, não estou me comparando ao herói grego que deu o fogo aos homens e foi castigado por isso – longe de mim, não sou herói e nunca dei nada a humanidade que valesse sequer uma lamparina.

O que posso pedir é perdão ao amigo que empurrei para longe, quando na verdade queria espantar apenas os corvos que me assolavam. Arrancaram-me os olhos e tudo o que tenho em minha vista é uma mancha perdida, pintada de sombras e vozes misturadas em uma cacofonia sem fim.

E nesses momentos, meu caros é quando percebemos que não estamos sós e que mesmo na adversidade podemos ser melhores do que somos na ventura. Isso é uma retórica velha, usada há mais anos que lítero qualquer possa contar, pois é nessas horas de drama e spleen composto que surgimos a filosofar sobre o que somos, quem somos e para que somos.

Desculpe-me amigo, não fiz por mal, um dia talvez eu o faça, mas não foi hoje que cortei suas pernas e o coloquei ao sol. Desculpe-me novamente e prometo não me fazer mal no processo, vou deixar esse encargo doentio aqueles que se vangloriam com tal labuta.

Fico aqui, esperando um abraço teu, mas venha cauteloso, porque cauteloso serei a aceitar como de amigos os passos que escuto ao seu aproximar.

Poe B.

Contingência contida


Os mimos que eu tenho não são meus. Talvez porque o que me tenha seja a possessividade absurda do que sou eu. Sendo mais objetivo, creio que em meu mundinho de idéias e sonhos, seja eu um Imperador do Etéreo – por isso, o que importa é o reflexo, é o que eu sou aos meus olhos, essa criatura que ao espelho se parece tanto com uma mulher.

Não, isto não é minha sexualidade dando ares de dúvida e nem uma auto-afirmação de saída de armário. É complexo mostrar ao mundo o que vejo sendo eu e como isso se reflete nas causas da minha perdição. Encontrar-me no presente é uma busca eterna, uma missão épica em busca do destino glorioso – todo clássico herói só se acha depois que se perde e é tentado por forças irremovíveis, onipresentes e onipotentes (mas eu não sou um herói clássico, estou mais para antítese do anti-herói moderno).

Digo sempre: “Vou te mostrar o meu lado mais bonito, mas por favor, manuseio-o com luvas e, somente se, tiver estômago para lidar com vísceras”. Então, de forma clara e verdadeira, as pessoas torcem o nariz e acham que é mais uma tentativa de atrair os corvos e espantar os lavradores.

Essas minhas medidas não são assim tão óbvias.

O que espero, no fundo do meu coração, é que eu me faça entender e me compreenda, que no futuro eu tenha significado mais do que ser um abrigo. Normalmente funciono como choupana, nas tempestades mais fortes verto água, mas protejo contra as intempéries de forma razoável – na hora que as coisas melhoram, fico lá, no meu lugar à sombra da montanha, esperando um dia ser abrigo outra vez; cada vez mais aos pedaços, mas cada vez mais parte do cenário que me rodeia, mais bonito e mais uniforme.

É bonito usar de metáforas para sentir o mundo à sua volta. Gosto disso, como usar um agasalho fino em dia de garoa. Por isso me entendo e nas entrelinhas de meu cotidiano fica uma alerta a mim mesmo – sou filho do ocaso, minha beleza reside sempre no partir.

2.12.09

...

daaodadaísmoseutempoeosismossedeixam

pãoesia.

30.11.09

A cultura interna empresarial, a consciência e o respeito

Já faz algum tempo que passei por uma experiência que agora eu posso narrar com mais calma.

Há algum tempo atrás, prestei serviço em uma empresa de uma cidade do interior. Na proposta inicial o trabalho pareceu bem legal – e o lado profissional, em si, foi fantástico. Voltei a lidar com algumas experiências que eu já tinha comigo fazia anos, coisas de começo de carreira. Somei a isso algumas coisas que aprendi com os anos e fui evoluindo naturalmente o trabalho.

Porém, uma das coisas que mais me irritavam e fizeram ser uma das experiências mais difíceis da minha vida profissional foi o ambiente. Não, o lugar não era uma masmorra que chicoteava os funcionários, o problema mesmo era a cultura dos próprios funcionários. Sim, isso mesmo, o ambiente criado pelas pessoas que trabalhavam comigo era impossível de lidar – pelo menos para alguém como eu.

O chauvinismo imperava. Tratavam as mulheres do ambiente como pedaço de carne. Era só uma delas sair que começavam os comentários “buceteiros”, de arrepiar a nuca dos mais liberais. Papo de boteco bravo, daqueles que você ouve depois de pelo menos 5 garrafas de cerveja.

Isso era pouco. O índice de homofobia e preconceito passava o limite do crime, os comentários me causavam azia. Tentei reagir algumas vezes com comentários suaves, mas não dava, sem criar olhares e comentários de volta tão ofensivos quanto.

Foi aí que alguns problemas pessoais surgiram e eu tive que decidir entre resolvê-los de vez ou me dedicar a empreitada que havia começado. Pelo ambiente, decidi pelo primeiro, afinal, já tinha peso demais em minha vida para agüentar esse tipo de coisa.

Esse desabafo demorou um bocado pra sair e os motivos foram vários. Não queria falar sobre isso com ele tão recente, afinal, a gente se enrola demais quando ainda está sentindo raiva, mas o motivo principal foi que até então eu não sabia que isso realmente me incomodava.

A idéia da “cultura dos funcionários” desandar com as relações internas e até mesmo interferir nas externas é algo que os administradores deveriam ter como meta. E não são todos que pensam nesse aspecto.

O triste é saber que em 90% das empresas da minha cidade natal as pessoas pensam assim. Não existe de fato uma cultura de pessoas, mas um aglomerado de chauvinista buceteiros e preconceituosos que não prezam pela evolução empresarial e humana – na verdade, a maioria das pessoas é um pedaço de carne, comível ou não, mas um pedaço de carne.

A falta de respeito me faz ir para longe e eu fico muito triste quando isso acontece.

Espero que um dia as pessoas possam lutar contra isso de verdade e mandarem pra puta-que-o-pariu gente assim, sem medo de tomar de volta em forma de tapa o toque que deram na sociedade.

Amanhã é dia 1º de dezembro, Dia Mundial da Luta Contra a AIDS, dia de pensar nos preconceitos e na consciência de que temos um lugar no mundo, mas não é o de apontar o dedo para outros. Somos todos iguais: morremos, sangramos e sofremos; respiramos, comemos e sorrimos.

Mão na consciência.

23.11.09

Metamorfase

Olhei bem fundo a minha volta
E reparei em todas as formas quase-tortas:
Tudo era tão diferente do jardim
Que havia a séculos em minha memória.

Tão incomodo como uma pedra no rim,
Extirpei pelos olhos uma lágrima morna.

Não houve retorno,
As formas turvas ficaram mudas.

Não houve transtorno,
As mortas reações eram absolutas.

Em vão aqueci o morno
Leite que escorria a rodo
Da Liberdade Ressacada
E virtualizada em estátua.

Não encontrei resposta,
A banca retirou as apostas.

A droga em suas veias efeito fazia,
Suas crisálidas agora eram cascas vazias.

As borboletas estavam mortas.
O som não se propaga no vácuo.

O limite da irrelevância

Existem dois momentos na vida da gente: quando aceitamos e quando reagimos.

Aceitar a derrota é uma coisa, precede a tempestade e antecede a mudança real. Reagir precede a compreensão das coisas e antecede o novo.

São dois momentos muito ligados, não dá pra saber de fato quando estamos em um deles, mas o fato é que identificamos mais a aceitação como reação do que realizar de verdade mudanças essenciais. Somos vulneráveis a isso, podemos até chamar de comodismo natural, mas acho fraco demais botar a culpa em variáveis inexoráveis quando na verdade é falta de vergonha na cara e força de vontade mesmo.

Comecei uma mudança faz mais de meses, que ainda não se concretizou de fato. Ela trabalha todos os dias na minha cabeça e funciona de uma forma destruidora quando passo um tempo sozinho comigo mesmo. Ela devora-me por dentro, destrói muito dos dogmas que levantei e, principalmente, coloca por terra coisas construídas nesses 5 anos que achei que eram reais.

Paradigmas, quando caem por terra, nunca são muito bonitos. Olhamos para eles como se fossem reflexos distorcidos do que somos, quando na verdade eles são exatamente o que somos – só que estão desfigurados e exibem aspectos horríveis que não gostamos de encarar.

É aí que mora a reação. Não adianta olhar para o que não gostamos e aceitar apenas, isso é apenas uma das coisas que devemos fazer. Aceitar é essencial, mas reagir aos estímulos externos é condição necessária para a evolução individual.

Quando temos fatores externos que nos transformam em pessoas piores, o que devemos fazer, quando impossibilitados de modificar o seu resultado em nossas, é eliminá-los para que não interfiram mais. É assim com um viciado em drogas, se ele não consegue ficar longe do vicio (e isso o faz uma pessoa pior) você elimina a droga da sua vida, custe o que custar – o mesmo vale para aquele que sofre de outros vícios/males ou faz determinadas coisas quando exposto a outros antígenos.

Portanto, o que vale em nossa vida é aprender a aceitar a nossa realidade e a reagir aos estímulos que nos são apresentados.

Aprendi isso depois de alguns dias compactos, que me fizeram engolir esses 5 anos e mandar eles descerem secos pela garganta. É estranho como olhamos para trás e vemos o quanto desperdiçamos.

Nosso medo de sermos irrelevantes ao todo faz exatamente o oposto: nos torna irrelevantes ao todo e a nós mesmos.

4.11.09

Zombie Walk


Zombie Walk
Upload feito originalmente por Nathalia Ernandes
Estive lá. O dia mais quente do ano. Maquiagem comendo por dentro e muitos amigos sofrendo mais que eu. Sucesso ao Dennis, a Carol, a Márcia e a Gaby. Sucesso ao dia com amigos e a nerdisse sóbria, ao primo do Brucê Uilis e a cerveja no fim do dia. Sucesso a amizade nova e o amor verdadeiro.

Felicidades sinceras e um mundo a frente.

--
Foto da Nathália, perfect time, perfect shot.

19.10.09

Affair

vivo de ilusões, / mas sou mais equilibrista. // equilibro os lampejos de vaidade / com a dialética do desperdício. // sou o verso do início

um twitter poem. aprendi a usar imagens curtas.

13.10.09

Tereza

Dá-me um copo!
Corpos não me satisfazem.

Dá-me um copo,
Que bebo em teu seio
O veneno que recusei.

Aceito só um corpo,
Mas não ungido,
Pois o Sacramento é só meu.

Criam-se os monstros
Na mesma proporção que os soluços
Que a falta de vodka me traz.

A bebida é irmã mais velha da saúde:
Sua dose diária me deixa seguro,
Sem medo do escuro, de dormir ao relento.

Eu, em 13.10.2009 - 7h40

Travessa

O chão está partido!
O gado ferido não tem para onde seguir.

A terra seca murcha
A relva e turva os anos de escasso plantio.

Procura-se a culpa.
Dá-se o nome ao diabo que melhor lhe convir:

Belzebu, Carnegão ou Satanás?
Cachaça, viola ou Mariana?

Não importa o nome, mas o que ele faz.

Desfazem-se os anos,
Os laços
E as malas dos mascates.

Desfazem-se os anos
E os passos
Dados em direção comum.

Sobra-se a seca e a culpa,
A sede e o culpado.

Sombra-se o passado,
Oculto nos erros e errados.

Sóbrio é se, com tudo isso,
O peão sabe sua reza
Ao santo pelo que se preza
No momento do Juízo Diário.

Sua terra lhe pertence,
Mesmo seca e amaldiçoada pelo diabo.
Abraça seu chão chão e ama seu zelo.

Só o que é seu de verdade
Está além da vaidade e do medo.

Depois da seca, vem a tempestade
- e depois dela, o plantio.

Eu, em 13.10.2009 às 7h00 da manhã em viagem.

12.10.09

Duomático

Sou o filho da tempestade,
vivo entre o Sol e o solo.
Meus irmãos são os sonhos perdidos,
Filhos do desespero e da falta de zelo.

Vou da tristeza da tarde
ao leve sorriso do amante tolo:
Meus laços são todos fundidos
no âmago dos tempos passados.

Vivo no presente a supremacia
das minhas eternas memórias.

Sou o Senhor do meu futuro
e o sabotador das minhas glórias.

Poe Bellentani, 12-10-2009
Um poema de mais de três versos depois de quase 4 anos sem fazê-lo de forma coerente.

29.9.09

Um conselho de um não morto

Por esses dias eu tive uma das maiores rasteiras que a vida podia ter me dado. O que eu fiz foi acelerar um processo que já se fazia em mim, repensar tudo o que eu fiz, tudo o que sou e o que eu realmente tenho.

Não foi uma epifânia monástica, fiquem tranquilos. Não vou largar de tudo e ir para o Tibet, mas garanto que as coisas ganharam outro peso em meu cotidiano.

Ainda não foi o meu tempo do ataque cardíaco e nem do tal “derrame”, mas estou vendo as coisas a minha volta acontecendo tão rápido que eu não quero estar nesse meio do jeito que vivo.

Ouvi palavras como “comprometimento” e “dedicação” relacionadas ao trabalho – e já as ouvi em tantos sentidos, positivos e ruins. Só que nas últimas semanas ouvi coisas relacionadas a minha dedicação aos meus problemas pessoais mais do que ao trabalho.

Bom, eu avisei que isso seria necessário, e tamanha mudança iria afetar alguma coisa. Hoje eu vejo o trabalho como apenas uma parte da minha vida. Antes não era assim, eu faria tudo pra assegurar o meu dinheiro no final do mês e uma possível promoção.

Comprometimento não significa deixar de lado a sua vida para trabalhar, nem mesmo só pensar ou falar disso. Essa palavrinha bonita se remete a resultados e a sua palavra dada, mas também depende de níveis de importância.

Como em um projeto empresarial, você precisa atribuir valor as prioridades e executar as coisas seguindo essa ordem. Com isso é sucesso certo.

Agora, diga-me porque isso não vale para o resto todo?

Se você está doente, a sua prioridade não é o seu trabalho, mas sim sua saúde. Se você está com problemas em sua família, a prioridade é cuidar dela e não ficar 20 horas por dia no trabalho – quando não no final de semana.

Tudo tem que ser dosado e a prioridade zero é a sua vida. Se você não vive, porque trabalha feito um imbecil? Tudo tem que ter doses iguais, Yng-Yang – todo mal tem bem e todo bem tem mal, mas na medida equivalente.

Antes de você pensar em ganhar dinheiro pergunte a si mesmo que quer fazer com esse dinheiro – e se vai ter tempo para aproveitar tudo o que tem, pois se não tiver, você tem coisas demais (ou elas te possuem).

Respirem e vivam, o que vale não é está em uma sala com ar condicionado.

25.9.09

A queda

As quedas são medidas pela profundidade do mergulho ou pela intensidade do impacto? Na minha época de colégio ensinaram-me que na verdade as duas coisas são proporcionais, já que dependem da aceleração envolvida.

Portanto, se o chão é arremessado em nossa direção ou somos jogados em direção a ele tudo vai depender dos fatores de deslocamento.

Eu não sei o que aconteceu, mas o impacto foi forte. A intensidade foi sentida em todos os aspectos da minha vida. Não sei mais o que fazer, para onde ir e o que sentir. Não sei como proceder, o que falar, com quem falar ou como falar. Não sei, só não sei. Não sei nem o que eu fiz de tão errado para ser uma criatura tão detestável e digna de nojo. Não sei o que eu fiz de errado, o que eu fiz de tão ofensivo e de tão baixo. Só não sei.

O mais engraçado é que sempre é um lado que fica assim. Aquele que te arremessa o chão ou ao chão continua seguindo em frente. Não importa o que seja dito, não importam as alegações, só um lado se destrói.

Enquanto isso é preciso criar empulso pra usar a energia cinética ao seu favor, mas é difícil. A direção da queda só é favorável quando resta um pouquinho de energia pra se agir.

Não quero apelar para fontes sintéticas, pois acredito que o tempo resolve tudo, mas alguém aperta o Fast Foward por favor?

No final, o que resta são as oportunidades. Espero não perder nenhuma. Força e em frente.

24.9.09

Pé no chão


Pé no chão
Upload feito originalmente por Poe Bellentani
Voltamos às raízes. Voltamos ao que somos em lugares onde sempre estivemos. O triste é que você olha em volta e essas coisas estão mudando e encolhendo - menos pessoas, menos momentos e menos tempo.

Tudo se resume a isso, menos. Porém, as histórias são muitas e tem mais é que ser contadas.

Vou contar as minhas histórias e chamar pessoas a fazer parte delas, pois a minha vida é feita de coisa importante. Quem entende essa importância faz parte do meu futuro, quem não entende, por favor, vá ler "O Pequeno Príncipe" e compreenda - se não entender nada e achar que é um livro de crianças, por favor, afaste-se e não pense mais em mim.

Pé no chão, cheiro de sítio e vida de verdade, lenta e longa, pra você soltar uma lágrima no final do percurso.

A beleza da sua vida é só sua, de quem se importa e quem importa pra você - tem que ser recíproco, senão é falso.

19.9.09

Do duodeno

O vento é um enigma. Definições diversas já foram feitas, sobre a romanticidade absorvida pelo ar, mas não gosto mais de pensar em definições. Aprendi a sentir mais do que descrever. Talvez por isso tenha deixado as palavras de lado. Só que em um determinado momento parei de sentir e nem reparei.

Quando você acorda tarde não aproveita o dia, nem a noite. Porém, eu não fico triste em ser acordado tarde, principalmente depois de ter me realizado, perdido em um caminho estranho, cercado de gente importante, mas isolado por uma bolha onde eu mesmo me coloquei.

Sou uma pessoa de fases. Entro em minha crisálida e lá fico, para sair mais borboleta do que lagarta, mas só consigo ser uma lagarta de novo toda vez que saio desse casulo. Mas isso não me deixa triste, dá-me aquele ar de spleen que considero bonito e agradável – e eu volto a produzir, pois evoluir sempre é sinal de crescimento, achar-se feio e querer melhorar é ser bonito de verdade. Coisas bonitas no meio do pântano. Uma lótus sem vergonha de brilhar em meio às coisas mortas – preciso representar as minhas tatuagens um pouco, essas marcas auto-adquiridas e assumidas como parte do meu eu.

No meio de tanta estória, história ou o que seja, é muito mais fácil ser sozinho. Você dá menos explicações, tem menos compromisso. Só que as coisas tem menos sabor. Não gosto de dessabores. Adoro o gosto de cabo de guarda-chuva que a ressaca me traz, adoro o gosto de algo diferente, de algo novo, de algo inesperado-mesmo-que-muito-esperado.

Ser sozinho é bonito. Estar sozinho é sincero. Mas é vazio. E no final, você não está sozinho, tem sua família, seus amigos e aquele grupo de pessoas especiais que você não vai largar mão. Só que é preciso cultivar. Cativar é natural, cultivar exige esforço – um esforço bom, que demora a lhe mostrar os frutos, mas eles estão lá quando você sente fome e depois que você cultiva direito existe uma sombra pra te proteger do sol .

Portanto, é melhor sentir e construir, formar raizes, alavancar-se pra cima com solidez, pois no final das contas, quando você diz que todo mundo morre sozinho esquece assumir que não é assim, você deixou parte de você por aí e ela vai ensinar alguma coisa, nem que seja para que as lembranças tirem sorrisos bobos da cara de quem encheu o caneco com você. Algo sempre vai balançar as suas folhas.

O vento continua batendo em minha porta, só que agora eu a abro. Sem metáfora, definição ou poesia, porque o que existe de bonito lhe encontra quando você se abre.

Deixo o ar entrar.

-

Esse texto, eu dedico ao Breno Bolan, uma das árvores mais bonitas desse jardim, e uma das pessoas que me despertou para a vida novamente, mesmo que ela dê voltas, cara, eu vou aproveitar e estar aqui. Cara, você evoluiu e me deu um puta presente, pena que sua estada por aqui foi breve – queria poder mudar o rumo da história, mas sua verdade me mudou. Obrigado, cara, nunca vou esquecer o pouco tempo que passei contigo (e juro, não serei só eu). Fica com Deus.

15.8.09

Separadas no nascimento

Tirando as devidas proporções, idade e atividade praticadas, essas duas foram separadas no nascimento.

ycris

A esquerda Isinbayeva e a direita Cris Couto.

Retirem também o Photoshop usado na moça russa.

Até.

Nanowar é mais sincero, vá!

image

Eu não sei o que falar sobre o Manowar, mas eles pedem pra ser zoados. A música pode ser boa (pra quem gosta, não é o meu estilo), mas os caras conseguem ser o cumulo do ridiculo.

Pra quem dúvida disso basta olhar essa foto fantástica:

image

Olhem no detalhe do último integrante da direita. Sério! Isso é ser “fashion”? Se uma bicha usa isso na Parada Gay é espancada por falta de senso fashion!!!!!!

Óleo no corpo? Sunga de couro? Nem o Sidney Magal nos seus acessos eternos de cafonisse usaria algo assim!!!!!

P.S.: A imagem acima eu peguei pela net, tipo Google+Search. Mas a sacada é muito boa, um monte de anão gay! lol

13.8.09

Gripe Suína

image

Quem tem medo do Leitão? Se ele estiver gripado…

10.8.09

Pra começar bem a segunda…

Um pouco de besteirol nunca é demais. Sem texto politizado, sem poesia de botequim ou qualquer coisa dentro do meu modus operandum.

Maicow Naite, minha gente, um fênomeno “antigo” da Internerd, em show ao vivo.

E pra quem quiser ver de onde esse cara surgiu:

Boa segunda!

4.8.09

Quem está gripado?

Eu já estava falando disso, mas esse video é perfeito. Não chequei as infos, mas eu não dúvido, afinal, o dinheiro move o mundo e realmente as outras doenças matam bem mais do que essa merda de gripe suina.

Gente, é uma GRIPE. A AIDS continua matando no mundo (e destruindo a África), a tuberculose fode o mundo a milênios e as azeitonas matam mais pessoas engasgadas do que essa gripe (tá, exagerei, mas se bobear…) – fica todo mundo correndo por aí.

Temos que nos cuidar, mas paremos de ser massa de manobra.

Impressão minha ou todo mundo esqueceu da crise mundial, das merdas norte-americanas e ficou tudo bem!

Somewhere, over the raibow skies are flue… enquanto o bolso da galera enche com isso!

1.8.09

Poça

Sou quase muito pouco, quando muito, quase nada.

Vivo de extremos,
Melhor que ser água parada.

Não nasci pra ser mosquito.

28.7.09

Michael Jackson e Vic Rattlehead: separados no nascimento

separadosnonascimento

Tudo bem, ele morreu, mas desculpa, gente, quando vivo ele tava igualzinho ao mascote do Megadeth.

Abraço.

Alguns dias cinzas

Não sei bem como isso acontece, mas o atropelo dos anos vai deixando tudo meio sem sentido. Usar sentido como palavra para idéia não se aplica, acho que a acepção da palavra é volta para sentir e não compreender – as coisas ficam então insenssíveis, a vida fica sem cheiro, gosto, textura ou cor, e por isso não falamos.

Usar o não sei outra vez mostraria que eu estou tentando formar um pensamento, mas não consigo. As coisas travaram em um alvo só. Tenho motivos para colocar a culpa em bodes expiatórios, mas me recuso a fazer isso sem lutar ao menos por alguns instantes.

Não adianta reclamar, pois o cotidiano é uma cobrinha venenosa que só dá o bote uma vez e te aleija; no resto dos anos seguintes você sofre apenas dos efeitos da paralisia.

Envelheci e, antes da crise dos 30, eu já comecei a pensar no que eu perdi. Uma coisa é fato, a única que coisa que se perdeu nesses anos todos (nos 29) fui eu.

Ainda bem, quando estamos perdidos é sinal que temos coisa pra fazer.